Mulheres-mães protagonistas da própria história

“Acho que não estava pronta para ser mãe”

“Acho que não estava pronta para ser mãe”

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Por Raquel Mergulhão – @raquelmergulhao.psiquiatra

Esse pensamento já passou por aí? 

Eu escuto com frequência essa frase.  Acredito que, pelo menos uma vez, tenha passado na cabeça de muitas mães.

Mas o que é “estar preparada”? É não se abater pelas noites mal dormidas? É não se sentir cansada e, às vezes, até mesmo esgotada e sem energia ou paciência? É não se sentir insegura diante de todos os desafios nunca vividos anteriormente? É saber todas as respostas? É nunca errar?

Seria isso possível? Se essa for sua expectativa, você nunca estará pronta.  

Ler e obter informações fazem parte do processo de “se preparar” para ser mãe. Mas ser mãe não se aprende em livros, em blogs ou no Instagram. Conhecimento e informação não conseguem captar toda a dimensão das relações e dos papéis que surgem a partir de um nascimento, muito menos a singularidade da relação e de cada um que faz parte dela. 

Conhecimento e informação também não vão tornar mais tolerável a privação de sono e o cansaço. Dificilmente, também, vão mudar a forma como você lida com a frustração ou com a insegurança ou com a imprevisibilidade e a falta de controle.

Preparar-se para ser mãe talvez envolva aceitar, justamente, que não há como preparar-se para tudo isso e abrir-se para a experiência (para os aspectos positivos e também para os negativos) e para a transformação que vem junto com ela. 

Talvez envolva saber que existirão momentos difíceis e dificuldades (que não serão as mesmas para todas as mulheres; então, o fato de fulana não ter passado por isso não quer dizer que ela estivesse mais preparada do que você) e perceber que você não podia saber como lidar com coisas com as quais nunca viveu. (Ressalto um detalhe importante: saber que existirão momentos difíceis não quer dizer que você não vá sofrer com eles. Por exemplo, todas as mulheres sabem que provavelmente enfrentarão privação de sono e muito cansaço físico, mas saber disso não faz que nos sintamos menos cansadas.) 

Talvez envolva aceitar que algumas ideias e regras que você criou antes de ser mãe serão mudadas ao longo do percurso – ou porque você mudou e aquilo não faz mais sentido, ou porque você percebeu que aquilo não funciona para sua família (apesar de funcionar para outras).

E mesmo você, já mãe, vai enfrentar novas dificuldades se decidir ter outro filho. No pós-parto de meu segundo filho, também tive esse pensamento, “acho que não estava preparada para um outro bebê”, mas a lógica é a mesma. Por mais que “o pós-parto” fosse algo já conhecido por mim, foi em um novo contexto, em uma nova dinâmica: nascia ali uma “mãe de dois” e uma “mãe daquele novo bebê”. 

Essa mãe tinha (e ainda tem e terá) muitas coisas novas para descobrir e aprender como “mãe de dois” e com mãe de cada um deles.

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