O desejo de uma mulher ter seu espaço de volta não é uma mera vontade, é necessidade. Não é natural pedir licença pra ser. Não é aceitável que as paredes e estruturas que abrigam as famílias tenham o poder de encobrir e tentar suavizar a agonia que vive toda e qualquer mãe que se vê emaranhada no ciclo filho-casa-marido.
Eu não estou falando sobre trabalhar ou não, ser dona de casa ou não, ter um casamento ou não. Eu estou falando da qualidade dessas coisas, de como tudo acontece e “transita” dentro de casa, quando por mais “parceria” que se tenha a mulher mãe continua sendo vista como a responsável mor pelo filho e seus cuidados, com a atribuição de não descuidar do casamento.
Isso a encurrala, a coloca num lugar de poucas escolhas e muitas renúncias.
E somente aquelas que têm uma autonomia suficientemente desenvolvida conseguem liberar os nós e driblar os “boicotes invisíveis” que tentam, a todo custo, transforma-las em “tarefeiras” (como diz Leandro karnal): alguém ocupada em fazer e resolver coisas, liberada de sonhos e perspectivas.
A fala que conta sobre as nossas mães e ancestrais, que deram conta, que foram mães e esposas, sem as facilidades de hoje em dia, com casamentos arranjados e filhos aos montes não pode mais servir de explicação! Houve um tempo onde tudo isso aconteceu por questões diversas: culturais, sociais, educacionais e, ainda bem, mudou!
O fato de ter sido assim não chancela que deva ser para sempre!
Muitas dessas mulheres foram estupradas física e emocionalmente, só não sabiam disso: apenas sentiam os efeitos e reproduziam as crenças limitantes às suas filhas para não sofrerem como elas, o que no fim, gerava um efeito contrário. Ainda bem que mulheres se rebelaram, lutaram e lutam por um espaço mais humano e merecido.
A mulher não dar luz à um filho: ela dar luz à vida humana, única capaz de criar, transformar, fazer acontecer. Todos nós existimos porque houve uma mãe que pariu e criou e cuidou e educou. Quando vamos entender isso e acolher as mães, não apenas a sua, mas as mães que você conhece e convive, como um ato de amor, de sociabilidade, de valorização de quem tem o poder de verdade de mudar o mundo?
O tão sonhado mundo mudado é um mundo de pessoas mudadas, pessoas mudadas foram geradas e criadas por uma mãe. A qualidade da criação definirá. Com a sua ajuda, seu entendimento, sua mão estendida ela será muito melhor, pois mãe inteira é aquela que também consegue se abraçar.
Larissa Silva, 35 anos, mãe de Eduarda, Coach de mães e idealizadora do projeto Me dê a sua mão. Instagram: @larissasilvacoach