Mulheres-mães protagonistas da própria história

Os desafios da maternidade atípica

Os desafios da maternidade atípica

Compartilhe esse artigo

Por Gabriela S. K. | @gskadvocacia 

Samuel está em tratamento multidisciplinar desde junho/2021, há 6 meses mais ou menos consegui interagir e criar amizades com outras mães na clínica.

Muita coisa mudou… Saber que não vou dar conta, que farei renúncias todos os dias, que às vezes falta paciência e que estamos sempre exaustas é comum, infelizmente, mas me conforta saber que o problema, não sou eu.

Nesse mar de sentimentos, preocupações, concessões e emoções percebi que ainda assim estou numa alta escala de privilégios! Sou a única da turminha que “consegue” exercer um trabalho normal e estudar, a maioria das mães engavetou sonhos pessoais e projetos para dedicação exclusiva aos filhos.

Dentre essas mães conheci duas mães de gêmeos autistas e fico pensando todos os dias nessa sobrecarga física e mental… Só posso aplaudir vocês.

Voltei a fazer crochê que me ajuda a acalmar a mente, e converso com uma delas, trocamos receitas, angústias e alegrias.

Como não poderia deixar de ser, pelo meu compromisso ético, profissional e social, alerto para que se organizem caso algo não saia como o combinado, não sejam dependentes financeiramente de seus companheiros/as, porque sabemos de todos os direitos resguardados, mas, na prática, sem alguma segurança e total dependência tudo vai ficar mais difícil.

Compartilhamos nossas histórias de vida, dos amores, da gestação, do diagnóstico, até a rotina exaustiva de todos os dias estarmos juntas na clínica acompanhando nossos pequenos e celebrando cada evolução.

A pergunta que mais ouço é: “Como você dá conta?”, e a resposta: “Não dou conta!”

Levo um dia de cada vez, mas sempre tem uma renúncia pelo caminho… O mestrado foi uma delas, uma cliente que só pode agendar reunião, fim da tarde ou noite, um convite para palestra ou para ministrar aulas a noite, não posso! Depois das 16h, meu compromisso é com meu filho!

Fácil? Não, nunca, ainda mais pensando na perda financeira, mas consciente de que todo apoio que ele precisa estou conseguindo entregar dentro das possibilidades.

Tem dias e dias… Dias de tranquilidade e evoluções aparentes, dias de comportamento inadequado, birra e cansaço, tem também o dia que as telas são os braços que faltam porque, além da criação de uma criança atípica, tenho um escritório pra tocar, boletos pra pagar, continuidade nos estudos, casa para administrar e uma mulher com seus 37 anos que precisa se sentir viva.

Eu agradeço por conquistar todas essas amizades, elas me fizeram sentir menos culpa, entender que nem tudo é possível porque somos de carne e osso, que oscilar na atenção e perder a paciência faz parte do processo, basta olhar pra trás e ver como evoluímos e naturalmente eles também.

Nossa condução nessa jornada é desafiadora! Mas entender que fazemos o possível e o melhor que podemos, acalma o coração e, assim, compartilhamos das dores e amores de uma maternidade além da romantização propagada indevidamente.

Que possamos ter saúde mental e física, apoio, estabilidade financeira, direito as escolhas, ao tratamento e um coração em paz!

Compartilhe esse artigo

Leitura relacionada

Últimos Artigos

Deixe um comentário