A gente diz que desejou igual, gerou igual e criou igual. A gente jura que trata igual, se entrega igual e ama igual. Mas, contra tudo o que a gente acredita e deseja, nem sempre o curso do rio do amor flui da mesma forma para dois destinos distintos.
Se fosse possível quantificar, colocar em gráficos, se pudéssemos entrar num daqueles tubos de ressonância e delinear o amor, eu diria, sem dúvidas: o amor tem milimetricamente o mesmo tamanho. Mas igual? Igual não é.
Tem um que exige mais da gente. Aliás, exige muito da gente, na verdade, exige pra cacete. Tem um com quem a comunicação é mais densa, com quem, por mais que a gente se entregue (ou pense que se entrega), nunca parece o suficiente.
Um que chora demais e dorme de menos. Um que reclama muito e insiste além da conta. Tem um que murmura (mia!), a bem da verdade, irrita e incomoda. Um que desperta o nosso lado sombra.
Em fúria, a gente pensa: “como somos tão diferentes”? Não vemos que, longe disso, estamos justamente, de frente a um espelho. Estamos cara a cara com a nossa criança. Não a criança obediente, que se moldou por medo ou pelo anseio de agradar aos pais e ao mundo. Estamos lidando com a criança que a gente teria sido; não fôssemos tão podadas.
De ímpeto, a vontade é reprimir e calar esse filho que nos conecta tão duramente ao nosso passado. E às vezes é isso que a gente faz mesmo. Mas é quando a gente lhe dá voz que ficamos diante de uma valiosa oportunidade; um presente. É quando temos a chance de nos autoconhecer, autocontrolar e, então, fazer diferente.
É natural? Não! Requer esforço? E como! Mas o filho-espelho, que tanto demanda e tanto solicita, só pede aquilo que precisa. Do que você precisava na sua infância? Encontre a sua criança, escute-a. Então perceba que será capaz de oferecer amor mais genuíno.
Por: Grazielle Ferreira – @graziellebrandao
Revisão: @lougandini.