Mulheres-mães protagonistas da própria história

Maternidade: Da euforia à exaustão

Maternidade: Da euforia à exaustão

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Por Paola Marina Amarante Livramento

A maternidade chegou chegando, me virando do avesso, me mostrando coisas sobre mim mesma que até então eu desconhecia. Fui da euforia da gestação e do nascimento a um vazio e exaustão tão profundos, que sequer conseguia acessar os meus reais sentimentos.

Foi difícil, do dia para a noite, não mais me identificar com quem eu era e, tampouco, entender quem eu seria dali para frente. A maternidade, de fato, mexeu comigo, e me forçou revisitar memórias de um passado que ainda ecoava em mim, de maneira muito dolorosa, como nos meus 14 anos, quando fiquei órfã de mãe, que partiu num trágico acidente.

Com a chegada da maternidade, me dei conta de que eu havia perdido completamente a minha referência materna e o meu porto seguro. Após esse episódio, eu convivi por alguns anos com a depressão, precisando constantemente encontrar apoio emocional no meu pequeno círculo familiar.

Eu tive muito receio de que essa tristeza profunda pudesse me revisitar no puerpério novamente e depois dele. E ela veio com tudo, bagunçando tudo aquilo que eu lutava diariamente para reorganizar aqui dentro de mim. Como eu poderia agora desfrutar das criaturas que coloquei no mundo, se um misto de sentimentos tomava conta do meu coração?

Como administraria minha mente em turbilhão? Eu mal conseguia cuidar de mim, como eu seria capaz de dar a devida atenção a duas pessoas completamente dependentes dos meus cuidados? Foi muito difícil conviver diariamente com tantos questionamentos incontroversos, o que me levou a um cansaço físico e mental extremos. A minha mente trabalhava de forma incessante. Ainda convivo com muitos pensamentos e sinto as famigeradas dores da alma.

Tenho momentos de muita exaustão, que me levam a esquecer de mim e me fazem sentir culpa constante. Me pego tentando identificar quem agora eu sou, para onde estou caminhando, como estou fazendo esse trajeto e como estarei quando chegar lá.

Muitas vezes, tudo parece desmoronar, mas todo o tempo vivido nessa jornada, nos meus momentos mais puros e de lucidez, o que posso afirmar é que essa experiência de viver a maternidade tem sido grandiosa.

Vou tocando em frente, aceitando que ela tem dessas coisas: ao tempo em que te consome, revira os teus sentimentos, exaure tuas energias; ela tem o outro lado, aquele que te ensina muito, te impulsiona ao autoconhecimento, te ensina a enfrentar e a lidar com os seus medos e conhecer os teus próprios limites.

Ela, sem dúvidas, te transforma em um ser humano melhor! Mesmo que diante de tantos sentimentos plurais, e apesar de muitas vezes ter pensado em desistir, o que sei é que hoje eu desejo viver plena e intensamente esse processo que é o maternar.

A vida me deu o privilégio de ser portal para duas almas, e cada momento vivido foi e será parte da minha história de vida, da construção de quem eu fui, de quem eu hoje sou e de quem eu me tornarei um dia.

Revisão: Angelica Filha – @angelicaafilha.

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