Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA | Por um ano inteiro de cuidados mentais

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Setembro é lembrado como o mês da conscientização sobre a saúde mental e prevenção ao suicídio.  E eu confesso nunca ter pensado sobre isso antes de me tornar mãe. Ou antes de ter mudado de país.

É muito fácil não considerar doença o que não se manifesta a olhos presentes. Muito fácil falar para a recém-parida que aquilo vai passar, para ela parar de ser dramática, engolir o choro e ser grata por ter nos braços uma criança saudável.

Quantas vezes mães por todo o globo tiveram de ouvir um disparate desses? Frases carregadas de julgamento, culpabilização, veneno. Para cima de quem? De quem já carrega nas costas todo o peso do mundo.

Por muito tempo eu me coloquei nesse lugar de responsabilidade de absolutamente tudo e qualquer coisa que acontecesse com a minha filha. Aos 7 dias de vida, quando ela chorava, eu tinha certeza de que ela chorava por estar sofrendo decorrente de algo que eu tinha feito. Afinal de contas ela não havia tido nenhuma outra opção senão nascer. Eu fiz isso com ela. Apesar de sempre querer ter tido filhos e amar de paixão desde o início aquele ser humano que não me olhava, não sabia nem que estava ali, não conseguia tirar a célebre frase de Machado de Assis da cabeça.

“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” 

E se eu tinha passado para um ser humano completamente desavisado, puro e inocente essa nossa miséria? Essa dor que eu comecei a sentir de viver?

É muito difícil, quem dirá impossível se colocar na dor dos outros. Entender o sofrimento alheio e conseguir ser empático com toda e qualquer criatura que nos cruza os caminhos. Mas quando cruzar o caminho com uma mãe, tente ser gentil. Entre nós é relativamente fácil de se imaginar o que se passa com a outra, mas a sociedade de uma maneira geral tem nos tratado com enorme desdém.

É quase um meme, mas é sobre isso e está mesmo tudo bem. Tudo bem você se cansar da vida de mãe, se angustiar com pouco ou se sentir presa com a falta de liberdade que a maternidade muitas vezes traz consigo. Tudo bem você deixar seu filho chorando por dois minutos dentro do berço enquanto respira do lado de fora do quarto. O julgamento alheio, é isso mesmo só: alheio, não pertence à você. E quanto as auto críticas: nesse sentido não dê ouvidos para si mesma. Você está dando o seu melhor.

Que a saúde mental não seja só visibilizada e priorizada em setembro. Mas em todos o resto do ano também. É um tópico de prioridade maior, principalmente para quem materna.

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