O amor materno sagrado e infalível não é real. Somos falhas, imperfeitas e propensas ao arrependimento e à desistência.
Mas, o amor que prioriza o outro, que se submete ao antes inimaginável, que se sobrepõe à dor e ao cansaço, este existe e é comum a maioria de nós.
Ao sentir esse amor, nunca mais podemos duvidar de nossa força, capacidade ou insistência, pois por um filho, quase toda mãe é capaz de tudo.
Ao me dar conta dessa minha insana paixão por minhas crianças, ao compreender que os amo como nunca amei – ou amarei – nada nem ninguém, me sinto ao mesmo tempo cheia de vida e sugada até a quase morte.
Não há mais lugar para a autopreservação, por eles ultrapasso limites da fome, do sono, da dor e do medo sem sequer notar, arrastando o corpo para continuar cumprindo aquilo que a alma jamais se negará a fazer: cuidar, proteger e manter saudável e feliz.
Ainda assim, depois de ter um bebê em seus braços, niná-lo, cuidar de suas feridas, ouvir suas histórias, prepará-lo para escola, ensinar a comer, dormir, ler e tudo o mais, eles crescem e a falta de reconhecimento pelo árduo trabalho de maternar é dolorosa e frustrante.
Essa batalha pelo bem estar do filho é eterna e muito ingrata, pois estamos acostumados a receber recompensa pelo que produzimos, mas filhos não devem nada a seus pais. Amor, respeito e companhia são resultados de relacionamento, não são pagamento por serviço prestado.
Meus filhos nunca me amarão como eu os amo. E quando tenho a real dimensão dessa frase, percebo que quem me ama assim é minha mãe.
Não sou capaz de me lembrar de tudo que ela fez por mim, mas certamente houve dúvida, houve choro, houve solidão. Fui embalada em braços exaustos, a privei de sono, de tempo, de dinheiro. E ela faria de novo, eu sei. Pois eu ainda nem cheguei na metade do trabalho com minhas crianças e eu faria outra e outra e outra vez.
Pense em tudo o que você faz para o bem de seus filhos e em como isso pode parecer para eles na vida adulta. Se você trabalha demais para que eles comam, se você dorme pouco para lhes velar o sono, se você não termina uma relação tóxica para que eles convivam com o pai… em seu coração está dando o melhor, mas no futuro pode ouvir seus filhos a descreverem como ausente, mal-humorada, agressiva, impaciente e será triste para você ouvir isso.
Todos os dias adultos como eu e você lidam com marcas do seu passado, da sua infância, da história escrita para eles por seus pais e, naturalmente, estão mais propensos a julgar que a acolher.
Eles dizem: minha mãe foi distante, foi dura comigo, foi traumatizante… e pode ser verdade. Na maioria das vezes, no entanto, essas mães buscavam acertar, com as informações e ferramentas disponíveis na ocasião, como fazemos agora.
Por isso, perdoe sua mãe.
Quando estiver com seu pequeno ou sua pequena no colo, balançando na madrugada interminável. Quando tentar com toda doçura e paciência, pela milésima vez que ele coma ou tome o remédio. Quando rolarem as lágrimas de exaustão… lembre-se que já foi sua mãe a passar por isso.
Quando sentir cheirinho de bebê depois do banho. Quando o menor te abraçar forte na porta da creche, ou quando seu adolescente finalmente chegar seguro da festinha. Quando já adultos te contarem que conseguiram o emprego, que compraram um carro ou que vão se casar e a felicidade te dominar… lembre-se que já foi sua mãe a sentir isso.
E novamente, perdoe sua mãe.