Coluna – Nascer no Brasil

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Bom, para seguir a nossa conversa sobre o Nascer no Brasil, te convido a caminhar pela história desse cenário, mesmo que de forma breve.

Existem alguns estudos que nos contam sobre essa história, além disso, podemos ouvir as protagonistas dela, sendo essa uma oportunidade que nos situa socio-culturalmente.

Quando ouvimos as histórias de parto das nossas avós, das nossas mães e tias e pensamos nas nossas, das nossas amigas, podemos perceber uma distância entre essas experiências, ou seja, observamos uma enorme mudança em um tão curto espaço de tempo.

Essa breve análise nos aponta para as transformações que o cenário do nascimento atravessou, que foram provocadas por um sistema que sustenta a estrutura desse cenário. Compreender a dimensão e a subjetividade que essa transformação carrega e o poder que existe na raiz de tudo isso nos possibilita entender onde estamos hoje.

Sabemos que o nascimento é um processo fisiológico, natural, que por muitas culturas, ainda hoje, é considerado sagrado. Trata-se de uma experiência altamente pessoal, sexual e familiar, que acontecia no ambiente doméstico, íntimo e era acompanhado por parteiras e mulheres da família, ou próximas dela. O universo do nascimento era, portanto, “coisa de mulher”, e as mudanças na concepção desse momento da nossa vida, se deu de forma contínua ao longo dos séculos. Isso aconteceu através de uma série de eventos, que culminou na ruptura deste vínculo entre a natureza e o parto, e o cercou de perigos e tabus.

O Brasil, com a chegada dos europeus e instaurada as políticas de colonização, sofreu com o apagamento cultural e identitário dos povos originários presentes em todo seu território. No parir e no partejar não foi diferente, com o processo da colonização do parto, as parteiras, passaram, então, a ser cada vez mais questionadas, marginalizadas, seus saberes foram sendo deslegitimados e passaram a sofrer diversas restrições em suas atuações, com o passar do tempo.

Somado a isso, chegaram aqui os instrumentos utilizados no parto e as práticas intervencionistas (tecnologias), que surgiram com a intenção de diminuir a mortalidade materno-infantil, mas acabaram se tornando procedimentos padrões e invasivos.

Caminhando nesse sentido, no início do século XX foram criadas as primeiras maternidades brasileiras, mas o parto domiciliar ainda era muito praticado em todas as classes sociais, sendo que algumas mulheres eram atendidas por médicos, os parteiros, ou ainda pelas parteiras, ou enfermeiras. E quando chega a cesariana, a institucionalização do parto de fato se concretiza.

Essa história continua no próximo texto já que esse processo merece ser mais detalhado, até breve.

Parindo em uma cadeira, gravada por Konrad Merkel, 1531, de The rosegarden para gestantes e parteiras, por Eucharius Rosslin (1470-1526), 1513.

Referências:

DINIZ, Debora. Humanização da assistência ao parto no Brasil: os muitos sentidos de um movimento. Ciênc. saúde coletiva, São Paulo, 2005.

BARROS, Lílian Silva Sampaio. “Não é toda mulher que quer ser parteira não!”. O ensino da aprendiz de parteira como tradição e identidade da parteira indígena Pankararu. Dissertação de Mestrado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco/Fundação Joaquim Nabuco. Recife, 2019.

FEDERICI, Silvia. Calibã e a Bruxa: Mulher, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Editora Elefante, Tradução Coletivo Sycorax, 2017.

GARNELO, Luiza. Política de Saúde Indígena no Brasil: notas sobre as tendências atuais do processo de implantação do subsistema de atenção à saúde in: GARNELO, Luiza; PONTES, Ana Lúcia (Orgs.) Saúde Indígena: uma introdução ao tema. Brasília, DF: MEC-SECADI, 2012.

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