Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA | Às vezes eu me sinto pequena

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Diminuída e resumida na performance feminina que o patriarcado coloca a gente.

Como se eu não tivesse forças. Como se eu não tivesse energia. Como se eu fosse sugada dia após dia por todas as demandas que não são só minhas.

Às vezes eu me sinto esmagada. Pisoteada. Como quem morre aos poucos e lentamente no meio da multidão. Como quem quer gritar. Pedir socorro e não consegue.

Como quem não tem pra onde ir. Uma rua sem saída. Um beco sem direção.

Às vezes, nesses momentos eu desejo, por tudo que é mais sagrado, nunca ter decidido engravidar. Como se a culpa fosse toda minha e a decisão naquele momento também.

Eu carrego o peso dessa decisão. E eu me arrependo de me arrepender no instante seguinte que eu ouço um “eu te amo mamãe”, no instante seguindo que eu vejo ele correr pra mim, no instante seguinte que ele sorri, como se eu fosse o mundo todinho dele.

E eu me culpo. Me puno. Como uma sádica masoquista por dentro. “Tá vendo, ele te ama mais que tudo e você aí arrependida”. 

Eu não sei quando ou como eu vou me perdoar por me arrepender ou vou me perdoar por ter decidido ter?

É complexo. E são muitas camadas.

E quanto mais eu mergulho, mais eu sinto a dor e o peso de minhas ancestrais que sentiram o mesmo por ter sua individualidade completamente roubada pelo sistema.

Agora eu entendo.

Eu entendo as ausências. As indisponibilidades. A dor.

Agora eu entendo o que a minha criança nunca conseguiu compreender.

Agora eu entendo porque eu nunca me senti vista.

Ela também não era.

Ela também não conseguia.

Ela também não podia dar o que não teve.

E eu por muitas vezes, também não consigo.

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