COLUNA | A mãe doente

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A grande verdade é que a mãe nunca deveria ficar doente.

Deveria ser proibido por lei, entrar em estatuto e estar escrito em pelo menos um cartaz por esquina “PROIBIDO A MÃE FICAR DOENTE”.

Mas, como todo bom ser humano, uma hora a mãe cai acamada. E agora? Quem vai amamentar o bebê? Fazer a janta, lavar a roupa, levar a criança na escola, buscar a criança da escola, recolher todos os brinquedos espalhados pelo chão? Por mais companheiro que seja o(a) companheiro(a), está fora trabalhando… e quando chega em casa até pode cozinhar, buscar a criança na escola, entreter a criança, mas e o resto? O resto…

A mãe adoentada deveria estar ali, deitada no sofá, sem se preocupar com nada a não ser descansar e, assim, ajudar o corpo a se recuperar do que está lhe acometendo.

Mas a mãe está pensando em como o dia será, como será o dia de amanhã quando o marido terá de trabalhar até mais tarde, que moram sozinhos em um lugar distante da família e ninguém cuidará do bebê se não ela mesma, porque não existe outra pessoa no mundo que está ali com ela naquele momento.

E, como quando nasce uma mãe nasce também uma empatia, a mãe ali, acamada, com dores, febres e tantos mais outros problemas incapacitadores, só consegue parar de pensar nos próprios problemas logísticos e pessoais para então pensar na outra mãe que provavelmente sempre tem esse tipo de questão e que também está sozinha no mundo criando outro ser e sucedendo.

Enquanto ela mesma está ali, a própria face do fracasso encarando o teto e desejando estar morta, pensando em como é insensível e fraca.

“Mais uma falha dentro da minha maternidade” – pensa consigo mesma enquanto observa a criança lamber o chão em que segundos atrás o cachorro limpava o bumbum.

Por fim, cede à dor, ao cansaço e ao esgotamento do corpo que luta com todas as forças contra um vírus, bactéria, ou seja, lá que outro organismo tenta derrotar nossa heroína nessa manhã e fecha aos olhos entregando a vida de todos que estão sobre sua jurisprudência a Deus.

Ao despertar de um sono com sonhos tenebrosos e inquieto, a criança maior cutucava a menor no olho com um graveto (menor essa que estava com a fralda mais do que cheia, era uma verdadeira acidente de Chernobyl), tinha um galo na cabeça, espalhara sorvete pela casa, o cachorro lambia o sorvete e muito provavelmente teria uma diarreia e estavam todos com fome.

Mãe deveria ser proibida de ficar doente.

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