Mulheres-mães protagonistas da própria história

Às vezes eu queria poder ser mãe

Às vezes eu queria poder ser mãe

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Eu queria esquecer todas as cobranças que me fazem e que me faço.

Eu queria a liberdade de cozinhar para elas o que eu quisesse, eu queria tomar café na cama, eu queria me sentar e brincar com todos os brinquedos junto com elas, eu queria me sentar no sofá e assistir o celular e a TV comendo pipoca, eu queria aninhá-las na minha cama e contar histórias até dormimos. 

Eu queria brincar com elas na chuva, queria fazer brigadeiros e juntas rasparmos as panelas, eu queria conversar e contar sobre a vida, eu queria dizer para elas, que elas vão sofrer muitas vezes, mesmo que eu não queira, mas eu não posso. Eu sou mãe. 

Eu tenho que seguir as regras, os padrões e ser mãe. Eu tenho que acordar às 5h da manhã e preparar o café da manhã que tem que ser na mesa porque precisam aprender onde é o lugar das refeições, os horários são controlados e corridos, parte de uma rotina de uma mãe que trabalha fora e leva a rotina diária sozinha. 

Eu preciso controlar o tempo de tela meu e delas, eu preciso lavar, passar, cozinhar tudo que uma dieta nutritiva pede, eu tenho que fazer mercado para garantir legumes e frutas frescas todas as semanas. 

Eu preciso deixá-las experimentar as consequências dos seus maus atos, para que aprendam que tudo na vida tem consequência, eu tenho que vê-las chorar e se frustrarem e dizer a elas que assim é a vida. 

Eu sei que isso também é ser mãe e que, na verdade, os dois papéis se complementam. Ambos são necessários para criar filhos saudáveis emocionalmente e preparados para vida. Mas achar esse equilíbrio não é fácil, porque a balança não é exata, não somos seres exatos, ao contrário disso, somos seres altamente complexos. 

Então parem de dizer que a mãe tem que ser 8 ou 80, parem de ditar as nossas regras, parem de dizer a todo tempo o que podemos ou não fazer. Sim, eu sei que você quer ajudar, que você quer contribuir, e se essa vontade é genuína, arregace as mangas e ajude.

Faça um bolo e leve para tomarem café juntas e não julguem se enquanto vocês tomam café as crianças bagunçam os brinquedos ou ficam no celular, entenda que a mãe tirou esse tempo para você e para ela. 

Vá à casa da mãe e ao invés de reparar a bagunça, lave a louça, dobre a roupa ou simplesmente não repare. 

Está com tempo livre, ligue para mãe e avise que hoje você vai pegar as crianças na escola para que ela não volte esbaforida do trabalho. 

Vocês precisam entender que criar filhos não é como programar um robô, não tem manual, não tem modo operatório, não tem fórmula e não tem guia, não são algoritmos. 

O que funciona para um, não funciona para o outro e vice-versa, crianças respondem a estímulos iguais de forma diferente, somos seres únicos constituídos de experiências que temos desde o ventre de nossas mães. Então pare de achar que tem que ser isso ou aquilo, deixe que a mãe ache e decida, afinal ela conhece todos os dados. 

 Se você não pode ou não quer fazer, deixa e aceite o que ela faz, mas deixe-a fazer em paz. É como diz o velho ditado, “muito ajuda quem não atrapalha”. 

Sim, eu sou essas duas mães descritas ali em cima, mas não em um perfeito equilíbrio, eu sou essa mãe a depender da situação e do momento que me encontro. 

Eu como mãe tenho como minha maior preocupação que minhas filhas sejam felizes, para isso entendo que elas precisam de saúde física e mental e foco toda a minha educação em aprender a me equilibrar para que através do meu exemplo elas também aprendam a se equilibrar. 

Então quando for me julgar no meu papel de mãe, me olhe também como mãe, se ponha no meu lugar de mãe, imagine os meus medos, as minhas inseguranças, os meus traumas, os meus erros e os meus acertos e experimente todas as minhas dores. Se depois de tudo isso você for capaz de me entender, por favor me explique, porque muitas dessas minhas partes eu sequer as conheço inteiramente, mas senão conseguir, se cale ou no máximo arregace as mangas e se disponha a ficar por 15 minutos com as crianças para que eu tome banho sem ser interrompida. 

A única coisa que eu quero é a liberdade de ser mãe das minhas filhas, ora 30% moderninha e 70% anos 80 ou inverso, ou 60%, 40% de cada, mas tenha certeza de que todos os momentos buscarei acertar e irei me julgar e me condenar ou celebrar a cada decisão que eu tomar.

Mães precisam de ajuda, de conselho e de orientação para educar seus filhos, se você não é capaz de fazer isso sem julgamento, sem imposição, com carinho e com amor, por favor não faça.

Eu só quero ser a mãe que consigo ser e quero que minhas filhas possam ser também quem elas querem ser, que sejam elas, que se conheçam, que se respeitem e tenham condições de seguir sozinhas a própria vida, sejam conhecedora de si mesmas para que um dia elas sejam uma mãe mais livre do que eu. 

Por Lili Ribeiro – @liliribeiro.escritora

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