Desde que nossos filhos chegaram, senti de perto a importância de se sentir representada na sociedade, na escola, na família, na rua, na TV. Meu marido e eu disputamos quem é o mais branquelo, moramos no sul do país, e nossos filhos são negros, minha filha é preta.
Eles não se veem em nós, nem na vizinhança. Minha filha tem três anos, tem cabelo crespo e logo que chegou não me deixava encostar na sua cabeça. Só ela mexia no próprio cabelo, sempre esticando-o para baixo.
O que mais esperar, se até os irmãos, na hora da briga, diziam que seu cabelo era feio, ruim? Eu me sentia muito frustrada por não conseguir cuidar do cabelo dela e muito triste por perceber que as crianças são expostas tão cedo ao preconceito.
Um dia, com ela no colo, apareceu a Taís Araújo (@taisdeverdade) na TV, com os cabelos soltos. Na hora, minha filha virou para mim e disse: “Olha, mãe, a moça é como eu! Quero meu cabelo igual ao dela, penteia meu cabelo igual ao dela?”.
Pela primeira vez ela me permitiu penteá-la. Ali começamos outra relação de afeto, cuidado e reconhecimento. Ela passou a me pedir para arrumar seu cabelo, e eu passei a procurar aprender sobre cremes, escovas, penteados e estratégias para ela querer mais e mais o cabelo como o “da moça da TV” e menos esticado para baixo.
Tenho buscado mais e mais referências de atrizes, personagens, bonecas, etc., para mostrar para minha filha e meus filhos, para que eles se reconheçam, se gostem, sintam orgulho da sua pele, do seu cabelo e das suas origens.
Hoje, os três elogiam os cabelos de todos da casa e os meninos sempre querem ajudar a pentear a irmã. Ela sempre quer ver o resultado no espelho e ainda tenta puxar o cabelo para baixo.
Por: Cristiane Belize Bonezzi – @kikabonezzi
Revisora: Stefânia – @tevejomae