Mulheres-mães protagonistas da própria história

A gigante da madrugada

Compartilhe esse artigo

10 dias após o parto. O corpo ainda se recuperando, necessitando repouso e, mesmo assim, é preciso emprestá-lo para oferecer conforto à pessoa mais importante do mundo.

Dizem que nasce com a criança um amor incondicional, mas, nesse início, é um amor com sabor de doação ilimitada.

Desde a gravidez, corpo casa. Agora também corpo cama, corpo fonte de alimento, corpo compartilhado. Corpo partido, rasgado e com as costuras frescas. Os dias e noites, longos, cansativos, em um infinito desfazer e refazer de si.

Amar tanto esse corpinho que saiu daqui de dentro e, ao mesmo tempo, sentir saudades de quando meu corpo era só meu. Esses dias, sonolenta, fui invadida por uma sensação de ser gigante. Deitar ao lado dela e, numa espécie de delírio, meio sonho, meio acordada, sentir meu corpo imenso.

Uma montanha, jorrando leite e lágrimas, desaguando em doloridas cascatas. Tentei entender, será que é assim que ela me vê? Por ser tão pequena e eu ter o tamanho de quem lhe garante a vida?

Ela vê em mim a abundância de uma cachoeira e a solidez de uma rocha, sem saber que estou despedaçada. Não entende minhas lágrimas e talvez só veja o brilho de uma bela correnteza.

Queria poder me ver com os seus olhos. Vejo meu rosto refletido neles quando a embalo. Ela me encara com aquela expressão firme e serena (das coisas que quero gravar na memória). Aquele olhar que me faz, apesar do cansaço nos braços, sentir que tenho força para embalá-la pelo resto da vida.

Por: Luísa Silveira – @luisahornsilveira
Revisão: @lougandini.

Compartilhe esse artigo

Leitura relacionada

Últimos Artigos

Deixe um comentário