Por Patricia T. Dias – @patricia.t.dias
“Onde está o(a) menino (a) que fui, segue dentro de mim ou se foi?” (Pablo Neruda)
Se por uma lado, nos ofendemos com o etarismo praticado com a mulher de quarenta, aceitamos com normalidade o termo “aborrescência”. Concordamos que os adolescentes são todos uns chatos e “mimizentos”.
Gostamos de nos vangloriar dizendo que as coisas eram muito mais difíceis na nossa época e nos causa arrepios a ideia de dividir espaço com um deles. Mas, fatalmente, esse encontro vai acontecer cedo ou tarde. E é melhor estar preparado, ou ao menos, livre de preconceitos.
O preconceito é tanto, que encontrei o termo aborrescência com a seguinte definição em um dicionário online: “Que ou aquele que, na fase da adolescência, causa problemas e aborrecimentos para os pais e/ou outros adultos”. Uma explicação simplista que culpabiliza o sujeito. Como se os adolescentes causassem problemas e aborrecimentos aos pais de forma deliberada e sem motivo aparente. O que de modo algum corresponde à realidade.
O convívio direto com dois adolescentes, tem me trazido notícias da adolescente que eu fui. Reviver essas memórias me ajuda a entender melhor o momento que estão passando. No entanto, reviver situações e angústias dessa fase nem sempre é fácil, muito pelo contrário. Assim, é mais fácil rotular os adolescentes, evitá-los e esquecer que um dia estivemos nesse lugar.
Existe um certo descaso com a adolescência, basta pensar nos inúmeros cursos, livros, palestras, perfis nas redes sociais voltados aos cuidados de crianças do nascimento aos primeiros cinco anos de idade.
Os mais crescidinhos começam a ser deixados de lado em torno dos 10 ou 12 anos, quando deixam de ser considerados crianças. E acima disso, passam a habitar um grande limbo. Como se tamanho fosse sinônimo de maturidade. Estudando um pouco sobre desenvolvimento e comportamento adolescente aprende-se que o lóbulo frontal – responsável pela tomada de decisões – só estará plenamente desenvolvido aos 25 anos mais ou menos.
Segundo a Dra. Frances E. Jensen no livro “O cérebro do adolescente”: “os adolescentes não são uma espécie estranha, mas apenas uma espécie mal compreendida” , e para melhorar a compreensão é interessante buscar informação sobre as características neurofisiológicas da adolescência. Muitos comportamentos que tomamos como ofensas pessoais são explicados biologicamente.
Se em outros tempos fizemos curso de parto e como cuidar de um recém-nascido, podemos aprender como lidar melhor com um filho adolescente.
Uma das coisas mais tristes que pode acontecer – tanto para adolescentes quanto adultos – é o afastamento. Vistos como quase-adultos, é comum pensar que já podem se virar sozinhos e que pouco podemos fazer por eles. Na realidade, ainda podemos fazer muito. O afeto é necessário em todas as idades. E eles, por sua vez, podem fazer tanto por nós. É um troca onde todos saem ganhando.
Tenho aprendido muito com a nossa convivência. É incrível poder observar o mundo através dos olhos deles: diferentes percepções, mentes mais abertas, o entusiasmo de quem vive uma série de estreias ou primeiras-vezes.
Ajuda ter em mente o mantra das mães de adolescentes: “não é pessoal”.