Mulheres-mães protagonistas da própria história

Tudo novo de novo

Compartilhe esse artigo

Após a experiência de cuidar da minha filha mais velha, entendi que a maioria das minhas angústias nos seus primeiros anos era exagerada ou infundada. A principal era minha culpa por deixar minha filha com outras pessoas não só para eu trabalhar e cumprir com minhas responsabilidades, mas também para me divertir.

Com o tempo, percebi que era saudável e esperado que cada uma de nós conquistasse sua independência gradativamente, sem que isso precisasse me causar nenhuma crise de consciência. Consegui enxergar que, além de mãe, eu também tinha direito de ser mulher, de me dedicar a um relacionamento amoroso, de me realizar no trabalho, de conviver com meus amigos e de ser feliz de forma ampla e geral.

Notei também que várias outras mães carregavam essa mesma culpa que eu havia sentido, mas passei a me considerar fora desse enorme grupo de mães culpadas, o que me deixava com uma leve sensação de superioridade.

Até que, vários anos depois, nasceu minha segunda filha. Para minha surpresa, apesar de saber que essa culpa era infundada e desnecessária, ela voltou a povoar minhas preocupações. Mesmo enxergando que eu não deveria me sentir dessa forma, não consegui evitar. Era mais forte do que eu. Quando menos imaginava, já estava me condenando por ter vontade de deixar minha filha com outras pessoas para fazer uma atividade física ou encontrar amigos depois de um dia inteiro trabalhando. A culpa aparecia quase instintivamente, como se fosse uma necessidade fisiológica, contrariando toda minha racionalidade.

Esse conflito interno me leva a pensar que a maternidade nunca vai deixar de despertar alguns instintos animais. Muito além da justificativa científica referente aos hormônios do puerpério, a inexplicável culpa por ficar longe da cria me remonta a nossos antepassados, que precisavam ficar perto para proteger os filhotes dos predadores.

Mesmo com toda a influência do meio em que vivemos, ser mãe parece, de certa forma, fazer aflorar um lado animal, mamífero, que me leva a sentir o que não consigo validar usando lógica. Vai ver, a culpa que sinto é consequência do conflito entre os instintos primitivos e a forma que escolhi para vivenciar a maternidade. A leoa que habita em mim permanece lutando para preservar sua identidade dentro da mulher que me tornei. Que a alcateia acolha essa legião de mães culpadas que tentam conciliar a maternidade com o estilo de vida que temos hoje.

Compartilhe esse artigo

Leitura relacionada

Últimos Artigos

Deixe um comentário