Mulheres-mães protagonistas da própria história

Sobre o ideal materno

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Todas aquelas facetas do ser humano que foram coloridas do início ao fim pelos ideais acabam gerando desconforto e dor na hora de transitá-los.

A maternidade é uma delas. Muito já foi dito e escrito sobre o amor incondicional que uma mãe sente por seu filho. Isso se espera que esteja acompanhado por uma entrega total, o que significa, em termos gerais, uma demissão.

Essa renúncia é a origem do luto que acompanha a mulher mãe, luto diante daquela mulher que deixou de ser e não será mais, aceitação de uma identidade modificada que não se sabe muito bem exercer, e que diante de tão muitos mandatos externos, permanecem paralisados pela culpa constante de saber que não cumpriu seu dever.

Há uma gama de sentimentos que a mulher/mãe é levada a esconder por não se enquadrar nesse ideal, mas ela não consegue se enganar. Por isso a maternidade como a conhecemos e praticamos, gera culpa e sofrimento, neste mundo nasce mãe e nasce culpa. Os mandatos vêm de todos os lugares.

Primeiro, às vezes sob o pretexto de ser melhor que nossos pais ou não cometer seus erros, outras vezes matizado por ideias do exercício da maternidade que não levam em conta aspectos reais, porque a pessoa não podia vivenciá-lo antes.

Temos também todo um aparato teórico que diz, em poucas palavras, que a saúde mental dos filhos recai sobre a mãe, se a criança sofre de algum tipo de vício, por exemplo, é porque a mãe era narcisista. 

Então, a responsabilidade cotidiana de cobrir esse ideal materno ganha força diante do medo de fazer as coisas erradas e de que os filhos sofram algum trauma, doença física ou mental.

Por outro lado, todo esse movimento de parentalidade com respeito, apego seguro, amamentação, dormir junto. São todas ideias muito boas. Mas quando são colocadas em prática, deixam a mulher mais exausta e com mais culpa, pois dar conta de tantos comandos e instruções torna-se avassalador, interminável e angustiante.

A maternidade pode ser uma prisão, que impede o real desenvolvimento do ser da mulher, quando exercida sozinha, sem redes de apoio, sem tribo, sem família.

Pode ser avassalador perseguir esse ideal de perfeição, da mãe que ama, que dá tudo, que é feliz e completa pelo simples fato de ser mãe. Sim, a maternidade é uma faceta da vida que algumas mulheres decidem viver (e que não deveria ser de outra forma), e que contribui muito para desenvolver qualidades humanas, empatia, solidariedade, compaixão para com outras mães.

Devemos repensar o exercício da maternidade e deixar de idealizar o amor materno, a maternidade também deve ser uma responsabilidade compartilhada e sustentada emocionalmente por outros.

Por: Kiusder Betancourt – @kius.vivirbien
Revisora: Vanessa – @elasoqueriaescrever

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