Às vezes tenho dúvidas se foi somente a minha filha que nasceu no dia do parto. Eu a pari, mas quem (re)nasceu naquele dia fui eu.
Nasceu a mãe. Renasceu a filha, não a minha filha, mas sim a filha da minha mãe.
Se você não entendeu sua mãe antes de ter um filho, certamente entenderá depois que ele nascer.
No meu (re)nascimento me (re)descubro dia após dia.
Quando recebi ela nos braços pela primeira vez, tudo mudou. Não. Na verdade, tudo continua mudando.
É que ao olhar para ela fora de mim, esbanjando perfeição, decidi que além dela, preciso cuidar de mim: da mãe, da filha, e da mulher que eu sou.
Nós dividimos o mesmo corpo durante a gestação e seu único alimento por alguns meses foi produzido em meu corpo, também. Vamos dividir a casa e a vida por muitos anos.
Se ela vai conhecer todas as minhas imperfeições, preciso conhecer a origem delas.
Se mãe perfeita não existe, quero dar á minha filha a consciente mãe totalmente imperfeita.
Mesmo na intensidade do maternar, me (re)encontro.
Eu já nem lembro mais quem eu era antes dela nascer. E o antes não é pré maternidade.
Quem me viu mãe ontem, já não me (re)conhece mãe hoje.
Ao nascer de cada dia me vejo diferente. A transitoriedade da vida não me assusta mais. Eu aprendi a dançar com ela. E no tradicional dois para lá, dois para cá, rodopio pelo autoconhecimento.
Me (re)descubro como filha e me encontro como mãe.
Autora: Cami Cordeiro-@camiicordeiro
Revisão: Gisele Sertão — @afagodemaeoficial