Mulheres-mães protagonistas da própria história

Precisamos falar sobre solidão

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Alguém anuncia a gravidez e escuta: parabéns, a partir de hoje você nunca mais estará sozinha! Isso parece romântico e cheio de amor, mas a realidade não é tão florida e a gente precisa falar sobre isso!

Com certeza o amor, os sonhos e os aprendizados marcarão presença em cada fase dessa jornada… também dores físicas e culpa aparecerão com muita frequência. Porém, o que observo nos relatos que escuto todos os dias de pacientes que chegam para psicoterapia é sobre uma imensa solidão que permeia a experiência da maternidade, ainda que por vezes essa mãe integre uma família grande e unida.

Dói no coração e pesa nas costas das mães os mais de cem mil bebês registrados sem nome do pai em 2023, as centenas de milhares lutando judicialmente para que eles se responsabilizem materialmente pelo sustento do filho, e também os incontáveis casos de mães solo casadas, em que os pais estão fisicamente presentes sob o mesmo teto, mas emocionalmente indisponíveis.

Além disso, gestar e maternar são jornadas de autoconhecimento, em que cada uma mergulha na própria experiência de família em busca das melhores referências para a nova função assumida. Pode ser que você encontre nos armários de memória uma roupa de heroína empoeirada, mas se aceita um conselho: não se esforce para caber nela.

A maternidade é o compromisso que assumimos sem ler as letras miúdas do contrato. Quando percebemos, os dias se tornam noites embalando um choro inquieto, por vezes, quem chora é a mãe, culpada por viver um luto diante da experiência que todo mundo vendeu como sendo a mais mágica da vida.

Nessa jornada solitária, o tempo passa como um rio, levando consigo as noites sem dormir, as preocupações incessantes e as dúvidas que nos visitam em horas inesperadas. E, de repente, nos damos conta de que, enquanto cuidamos de nossos pequenos, perdemos um pouco de nós mesmas.

Talvez você esteja achando esse texto pessimista demais, mas eu estou aqui para dizer que não é tarde demais para buscar apoio, para compartilhar os desafios e as alegrias, para construir uma rede de mãos estendidas e corações compreensivos. Tão importante quando cuidar dos seus, é se permitir abraçar as vulnerabilidades e pedir ajuda quando necessário. Segurar o amor que está à nossa frente e expressar nossas ansiedades e alegrias.

Pode ser que você encontre o suporte que necessite ressignificando as relações com a sua família, ou mesmo criando redes de apoio entre velhos e novos amigos. Pode ser que a necessidade de estar com seu filho seja o impulso que faltava para que você empreendesse naquele antigo sonho.

As coisas não precisam ser perfeitas, aceite ajuda, delegue, e aceite que nem sem pre o seu melhor possível vai combinar com o que você idealizou. E finalmente, pode ser que você precise de acompanhamento profissional para que consiga se reencontrar e lidar com o fato de que a vida nunca mais voltará ao “normal”.

Está tudo bem buscar terapia para conseguir lidar com tudo isso. Não deixe a solidão materna roubar a alegria da jornada. Não deixe de criar laços com outras mães por medo da vulnerabilidade. Desconstrua a solidão, construa conexões, e lembre-se de que, embora a maternidade possa ser uma estrada solitária, não precisamos caminhar sozinhas. Há outras mãos estendidas, prontas para se unirem na jornada única e desafiadora que é ser mãe.

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