Olhando a minha infância como forma de curar minha criança interna ferida, lembro do sentimento de não pertencimento, exclusão e infelicidade. Não ser uma criança dentro do padrão, físico, comportamental e social, me gerou fobia social, tristeza, carência afetiva, baixa autoestima, surtos de raiva, introspecção e silêncio.
Não culpo meus pais, mas sim há responsabilidade. Escolhemos ser pais. Mesmo não havendo consciência, há a opção de ser ou não ser. E, quando somos, há a oportunidade de sermos seres melhores. A maternidade nos mostra o melhor e o pior de nós mesmas.
Hoje, legitimando minha história de vida, vejo o peso dos padrões da sociedade moderna sobre as crianças. Vivemos em uma sociedade ansiosa, machista, antropocêntrica, que vive na necessidade de padronizar e sintetizar tudo, inclusive crianças. Não basta monocultura e perda da diversidade ambiental e cultural. A visão de separação da natureza, do que é natural e diverso, se estende aos pequenos que serão adultos amanhã.
Em alguns momentos me sufoco com a exigência de seguir padrão. Imagino que as crianças também se sentem assim. Crianças são a pura expressão de liberdade, espontaneidade e alegria. O peso de ser igual é uma carga árdua porque iguais nunca seremos. É preciso ter respeito à singularidade de cada ser.
Quando sinto pessoas comparando meu filho me conecto com minha criança interna e os sentimentos explodem. Busco a consciência na maternidade. Estar atenta me leva à ter leveza e respeito à esse ser que gestei e pari. Sei que o melhor não é ser o bebê gordo com traços angelicais, ou ser o primeiro em tudo: andar, falar, ler e escrever. Acredito que o melhor é ter saúde emocional, mental e física.
E o meu caminho pra dar isso ao Pedro, entre tantas coisas, é também cuidar de forma natural e responsável. Ser presente não só de corpo, mas de atenção também, colocar limites, acolher amorosamente minhas falhas e dar muito amor, que pra mim é sinônimo de respeito, felicidade, realização e plenitude. Tudo que mais quero pra minha cria, pra mim e para as pessoas desse mundo.
Texto: Lílian Carolina Silva Carneiro – Instagram: @lilicarolcarneiro.
Texto revisado por Luiza Gandini.