Por Isabela Martini – @umdrinkmartini
Minha criança que ainda é um bebê teme não aproveitar a vida o suficiente se dormir, e eu daqui, mãe cansada, contemplo o sono como quem deseja o sonho mais que qualquer prato de comida, e lembro daquele poema do Pessoa que diz “dorme, que a vida é nada.”
Pudera os dias serem realmente interessantes após a juventude, e não esse caminho desenganado entre casa, trabalho e cansaço, que não permite muito admirar as cores que nos visitam os olhos, distraídos e sonolentos.
Isto é reflexo da automatização dos corpos, que pulsam pela cama e se esquecem que já lutaram contra ela, na ânsia de mais um gole dessa vida_mundo_descoberta infinita.
Me entristece a perda e o estresse, e o desejar de que ela durma pra que eu durma também. Humana, demasiadamente.
Chego a conclusão de que criança nem é gente, pois se fossem, coitadas, quanta vida perderiam a toa, em troca de moedas, em troca de certificados, como se a certificação de que se absorveu bem a vida que o corpo apresenta já não fosse suficiente. O corpo da criança livre pulsa e vibra a conclusão: estou vivo!
Pudera eu ser então menos gente.