Se tem uma pergunta que me incomoda no pós-parto, seja com 40 dias ou um ano de parida, é: “seu corpo já voltou?” Voltou de onde, minha filha? Ele nunca me abandonou.
Muito pelo contrário, ele foi capaz de gerar um ser humano completinho, parir e alimentar essa mesma criatura!
Nunca estive mais em sintonia com meu corpo do que durante a gestação e amamentação. Com isso, não quero de forma alguma invalidar o sentimento que muitas mulheres têm de não reconhecimento do seu corpo tanto na gravidez quanto no pós-parto. Até porque, as mudanças que ocorrem no corpo de certa forma também nos distanciam daquela vida que tínhamos sem filhos há 543 anos.
O que me incomoda é a sociedade cobrando mais isso da pobre puérpera. Não bastasse a bomba de hormônios, a adaptação ao novo ser que depende totalmente dessa mulher, as inseguranças, medos, privação de sono, dificuldades na amamentação e restrições diversas.
Muitas vezes sem rede de apoio, sem o pai da criança dividindo as responsabilidades, preocupações com a volta ao trabalho, e de ainda ter que lidar com “volta do corpo”?
Seja essa preocupação vinda dos outros ou de você mesma, tudo tem uma origem em comum: a marginalização da mãe e da mulher. A maternidade, assim como as crianças, não se encaixa no que a sociedade espera: pessoas produzindo dinheiro. Quanto mais melhor. E um corpo pós-parto como ele é não vende.
A mulher pode até ter filhos, mas tem que retornar logo ao trabalho, tem que estar de bom humor, tem que, tem que. E tem que “voltar ao corpo de antes”!
As pessoas têm que entender que o corpo acompanha as necessidades da mulher e que cada uma tem seu tempo. E entender, principalmente, que quantos quilos a mulher já perdeu ou deixou de perder depois do parto diz respeito só a ela.
Cobrar ou questionar a condição do corpo da mãe é no mínimo cruel.
Autora: Sarah Fiorini, nutricionista. Instagram: @sarahfiorini_nutri.
Este texto foi revisado por Luiza Gandini.