Por Raquel Barretto – @raquelfigueiredobarretto.
Ser mãe de segunda viagem é mais fácil, eles falaram.
Fácil para quem?
Cada gestação é uma gestação.
Ser mãe 10 anos depois do primeiro filho é como começar tudo de novo. Do zero! Por isso me “defini” para o pediatra do meu segundo filho (que é o mesmo profissional que já cuida do meu filho mais velho) assim: é minha primeira vez pela segunda vez.
O mais estranho é que os outros/a sociedade não nos deixa expressar (há uma convenção tática) nossos medos/angústias porque consideram que já passamos por isso antes, então já sabemos o que, em tese, vai acontecer.
De fato, já temos noções (técnicas e práticas) sobre o que vai/deve acontecer, na maior parte das vezes, numa segunda gestação (considerando que seja uma gestão sem grandes/graves intercorrências).
Mas e os aspectos emocionais: e as novas dúvidas? Os novos medos? As novas angústias? As novas sensações? Sobre essas ninguém fala. Sobre essas quase sempre nem nos deixam falar.
Ainda bem que pensar/sentir ainda é permitido, né? É uma sensação de voz rouca, de querer falar para quem não quer, normalmente, ouvir. Não sentimos, muitas vezes, espaço para externá-las.
E, quando falamos, ainda nos dizem que a culpa toda é dos hormônios (que, de fato, atuam/atrapalham bastante neste delicado momento). Como se fôssemos reduzidas unicamente aos aspectos hormonais.
Como assim você acabou de parir e não está plenamente/1000% feliz? Como você ousa sentir qualquer coisa diferente da plenitude de uma mãe recém-nascida? É assim que nos veem. É assim que somos vistas.
Sempre se associa a imagem da mãe ao cuidado, ao carinho. E mãe é isso tudo aí mais uma “ruma” de coisa. Mas e quem cuida da mãe?
No mundo ideal, há uma rede de apoio, que quase sempre cuida da criança que nasce. No mundo real, muitas vezes nem essa rede de apoio a mãe recém-nascida tem. E para muitas, essa rede de apoio faz é adoecer (pitaco para lá, palpite para cá, desrespeito de todos os lados).
Numa segunda gestação/num segundo parto nasce também uma nova mãe.
Não somos mais as mesmas mães de antes, da primeira gestação, porque não somos mais as mesmas pessoas de antes – os contextos são diferentes. Se, em muitos casos, até os parceiros não são os mesmos, por que as emoções seriam?
Texto revisado por Luiza Gandini – @lougandini