Por Karenina Silveira @maternidadecomdireitos
Tenho 36 anos, mãe de duas meninas, Charlotte Sophia de 6 anos e Maria Antonella de 10 meses. Antes de qualquer título, digo que sou mãe.
Comecei minha segunda graduação aos 33 anos; optei por fazer Direito já tendo duas pós-graduações: em Gestão de Negócios e em Relações Internacionais.
Essa jornada começou por uma razão específica: parei de trabalhar para ser mãe da Charlotte Sophia. Essa era a condição de ter filhos: quero maternar, quero me dedicar, quero viver e experimentar cada fase da maternidade; quero acompanhar de pertinho a primeira infância da minha filha.
Após 3 anos dessa genuína dedicação, tentei voltar para o mercado de trabalho. Um contato, homem e profissional reconhecido no mercado, disse que iria me ajudar, elogiou meu currículo, minha trajetória e solicitou que eu enviasse o arquivo do CV para ele. Silêncio.
Enviei mensagem pelo WhatsApp. Logo ele, que respondia sempre rápido, dessa vez demorou.
Perguntou: “você ficou 3 anos parada?” “Preciso que você tenha cursos atualizados para colocar no CV, não posso te indicar assim”; “É preciso passar segurança para o escritório que pensei em te indicar”.
Fiquei perdida! Triste! Me senti descartável. Tudo o que havia feito até então já não tinha mais validade?
A pessoa sumiu. A promessa de me ajudar se esvaiu.
Tentei vários processos seletivos, contatos, amigas… apenas o preconceito me atendia.
Tive apoio e colo do meu marido: “Faça direito, Karenina. Você tem garra, coragem e determinação”.
Eu respondi: “Direito? Já tenho graduação, duas pós, falo 3 línguas estrangeiras, morei no exterior… eu não sirvo para nada?”
Pensei: tenho que ter uma fonte de inspiração. Cansada e angustiada me sentei para assistir ao filme: “História de um casamento”.
O filme me indicou uma trajetória, acendeu uma luz em mim: posso defender mulheres.
No dia seguinte liguei o computador e busquei uma instituição de ensino superior. Era ela, uma instituição confessional, dividia o mesmo terreno da igreja que frequento. Eu tinha tudo: escolhi ser presbiteriana na fé e na vida acadêmica. A Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília foi escolhida por mim. Entrei de corpo e alma no curso. Me apaixonei pelo Direito.
No segundo ano de graduação sinto o imenso desejo de ser mãe pela segunda vez. Planejei engravidar e ter o parto durante as férias, assim não complicaria o curso. Mas não somos nós que planejamos nosso futuro. Maria Antonella nasceria em abril, um mês após iniciar as aulas. Trancar a faculdade? Jamais. Afinal, eu estava numa instituição de ensino confessional, uma das maiores do país.
Meu primeiro tombo
Tendo todos os aparelhos disponíveis em salas de aula, solicitei ensino remoto. Negado. O semestre começou, 38 semanas de gestação. Entro então no Ensino Especial de Frequência (lei arcaica, de 1972). Não consigo entender, não aceito as condições de ensino: farei apenas trabalhos e não terei nenhum acesso às aulas? Mas como farei as provas?
Perguntei ao coordenador: as provas são as mesmas que meus colegas farão? “SIM”.
“Mas como farei as provas sem material?” – Essa é a lei, Karenina.
Eu estava incrédula. Aceitei sem querer aceitar.
As aulas então começaram, apenas uma professora me dava atenção, eu estava vulnerável emocionalmente, barriga muito grande e pesada, difícil para dirigir, para ficar sentada muito tempo. Sete matérias, sete professores. Trinta dias para começarem a me mandar as orientações de estudos. Eu mandava e-mail, WhatsApp e ligava: “por favor, me mandem os trabalhos, semana que vem minha filha nasce e não terei tanto tempo assim”.
Segunda gestação, eu já tinha experiência. Sabia como era. Eu gritava, mas apenas 1 professora me ouvia.
Um professor em específico, de Direito Penal, não tendo noção alguma de empatia, me passou os trabalhos via WhatsApp (mesmo a secretaria tendo solicitado que todas as atividades e orientações fossem colocadas no Moodle), 30 dias depois do início do semestre. Fazer resumo à mão e enviar como arquivo via WhatsApp.
Respondo à mensagem dele reagindo negativamente. Perguntei por que demorou tanto para enviar, porque tinha que ser à mão. Sem resposta.
Entro na plataforma Moodle para ter acesso ao plano de ensino: sem arquivo!
Solicito então ao professor, que me responde: “não sigo plano de ensino”.
Eu pedi: “mas professor, preciso de uma orientação, preciso de material”. A resposta: “tudo o que é necessário eu passo nas aulas”.
Eu, em lágrimas, respondo: “mas eu não estou nas aulas”.
Entre várias experiências ruins, a gota d’água foi no dia da primeira prova. Combinado previamente com o professor e coordenação, solicito fazer prova a noite; mais tranquilo, menos leite nas mamas e menos dor (estava com candidíase mamária, rompimento de tecido mamário e fissuras).
Cheguei na instituição às 18h30, prova marcada para às 19h00. Sinalizei minha chegada, minha bebê comigo e minha mãe como apoio.
Chocada: não tinha prova para mim! Esperei durante 1h00, me deram uma prova às 19h40… quando comecei a fazer percebi que não era aquele o conteúdo, me deram a prova errada. Eu quis chorar. Não estava acreditando.
Enfim, às 20h05min, comecei a fazer a prova.
Não houve pedido de desculpas, não houve explicação. Faço uma manifestação na rede social; a coordenação se indigna e me liga.
“Os alunos esperaram 30 minutos para fazer a prova, por que você não poderia esperar também?”. Essa pergunta veio de um homem.
Volto chorando para casa, meu marido se revolta, meus amigos, meu pai que também é professor. Então, às 23h30 envio mensagem para uma Advogada, Vice-Presidente da OAB e mãe: “por favor, me ajude. Você se interessa pelo caso?”.
E uma nova história de luta começa a surgir.
Vencemos no judiciário. Alcancei um direito. Esse troféu não é meu, é de TODAS. Mas a luta ainda não acabou.
TV Globo, Metrópoles, Estadão, TV Canção Nova, CBN, Jornal de Brasília, TV Justiça, Revista Crescer, entre vários outros meios de comunicação entram em contato comigo. Um precedente histórico aconteceu.
Por Karenina Alves da Silveira –