Mulheres-mães protagonistas da própria história

Maternar…

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É ato, é coragem, é doação, é educar, é afeto. Não é verbo descrito no dicionário, no entanto,
é uma palavra muito utilizada na atualidade e bem conhecida por muitas mulheres. Longe de
ser tarefa fácil. Criar um filho exige dedicação, muitas vezes, renúncia de si mesma em atos de
amor ao outro de forma incondicional.
Maternar é movimento, é cuidado. É diversidade, é possibilidade diante das diferentes
realidades vivenciadas por nós mulheres. Maternar não vem com uma receita e regras exatas
de como agir em cada situação. É vivida por fases, algumas mais desafiadoras e outras mais
deliciosas, mas todas com uma boa dose de gargalhadas, sejam pelos imprevistos, sejam pelas
alegrias.
Maternar deveria ser sinônimo de teia, deveria ser um ato coletivo. Se assim fosse, a
sobrecarga de uma mãe seria dividida com outras pessoas de seu convívio. A educação, criação
e segurança das crianças seria responsabilidade compartilhadas por toda uma sociedade. No
entanto, bem sabemos que, no Brasil, essa realidade está longe de ser possível.
Tanto que a expressão “maternidade solo” é frequentemente utilizada, não apenas por
mulheres que não convivem com o genitor de seus filhos, mas por muitas que apesar de dividir
o mesmo espaço físico de seus parceiros e pai de seus filhos, carregam sozinhas as
responsabilidades por todo o cuidado das crianças. Maternar tem se tornado solitário,
exaustivo e cheio de julgamentos.
Utilizar o termo “solo” associado à maternidade apenas contribui para normaliza duas
situações que não deveriam ser socialmente aceitas: a sobrecarga da mulher e a falta de
responsabilidade do homem. É fácil perceber que por trás de uma mulher-mãe forte,
‘guerreira’, dedicada (exausta, e muitas vezes, emocionalmente adoecida), existe um homem-
pai, que está se isentando de suas responsabilidades.
Também acontece, indevidamente, de mulheres que contam com a participação ativa do pai
de seus filhos no cotidiano das crianças, apenas por não conviverem com eles, se nomearem
“mãe-solo” de forma incorreta e oportunista de se vitimizarem e exaltarem suas lutas diárias.
Lutas que não são diferentes, nem maiores do que as mulheres que de fato não vivenciam a
participação paterna na vida dos filhos.
E, claro, a mulher não pode se queixar do cansaço jamais. Até porque, não é raro ouvirmos as
frases: “na hora de fazer, não reclamou”, “quem mandou não escolher melhor o pai dos seus
filhos?”, “ué, mas sabia como evitar. Quis ser mãe, agora se vira” dentre diversas outras frases
machistas verbalizadas por homens e, vergonhosamente, por muitas mulheres também.
Sim, maternar é uma oscilação entre desafios e delícias. Mas também é medo, insegurança e
cansaço. E, sim, podemos nos queixar da exaustão, dos dias difíceis e ainda assim, amar
incondicionalmente nossos filhos.
Toda mulher-mãe também precisa de cuidado, de colo, de apoio. É importante repensar o
significado da maternidade na sociedade atual, em que houve um acúmulo de funções sobre a
figura feminina, pois além de, ser responsável majoritariamente pelos cuidados da casa e dos
filhos, também exerce funções laborais fora do lar.
Que cada mulher-mãe, em sua microrealidade individual, possa encontrar afeto, apoio,
parceria. Que nós possamos ser teia umas das outras, sabendo acolher as diversidades vividas
por cada uma, sem o julgamento, sem normalizar o peso que está escondido no termo “maternidade solo” e possamos cobrar dos homens-pais, as responsabilidades que lhes cabe sem sermos desrespeitadas ou até mesmo, violentadas.
Ressignificar a maternidade é aprender a ser teia, se despir de julgamentos e ser acolhimento.
Saber partilhar inseguranças e alegrias, dores e delícias e poder vivenciar cada fase da vida dos
filhos com leveza e amor. A infância passa num estalar de dedos e, em pouco tempo, nós, hoje,
mulheres-mães estaremos ensinando novas formas, mais saudáveis de maternar e também,
quem sabe… de paternar nossas crianças!

Por Tatiana Paletti – Mãe e Psicóloga [email protected]

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