Tem dias que eu olho pra minha galeria de fotos, pro meu perfil no Instagram, pro meu dia a dia e me pergunto: cadê as outras partes de mim?
Aquela que quando saía cedo, só voltava à noite, e quando saía à noite, só voltava cedo da manhã. Aquela que passava rímel todos os dias, que ía pra faculdade, festa e academia. Que fazia só o que queria e que agora faz (quase) só o que deve.
Tudo bem, é até injusto dizer que eu não tenho tempo pra mim sendo que minha rede de apoio realmente me apoia. Isso facilita muito, torna tudo mais leve. Mas não anula o fato de que o espaço que a maternidade ocupa na minha vida é imensurável. E a responsabilidade com isso também.
Pra quem estava acostumada a sair sem ter hora pra voltar, pedir pra alguém ficar com eles pra poder lavar o cabelo no meio da tarde é demais. É demais levar mais de uma hora pra, entre choros querendo colo e mama, e gritos querendo massinha de modelar, conseguir sentar pra tomar café.
É fato que para além do espaço nas redes sociais e na galeria de fotos, eu também perdi um tanto da liberdade que eu usufruía para investir em mim mesma e não em outros. Mas uma das maiores lições da Psicanálise, é que toda escolha carrega uma perda e a perda instaura o desejo.
Pra quem não queria nem dar satisfação pra ninguém, talvez eu tenha ido longe demais. Longe demais do que um dia fui. Nesse longe demais, encontrei coisas que não sabia que existiam. Encontrei alguém que faz uma cara que te lembra tu mesma, que fala coisas que te fazem rir ou chorar de orgulho. Que te traz os maiores desafios e sensações já vividos.
Sensações. Do início ao fim elas se renovam. A gravidez, o parto e a presença de um recém-nascido, me fizeram sentir que eu não queria estar em outro lugar, mesmo que pudesse. Se eu queria novas descobertas e sensações, consegui. Acredito que não tenha nada mais surpreendente do que isso.
Autora: Sue Helen Ubinski – Instagram: @suehelen_ubinski
