Mulheres-mães protagonistas da própria história

Filhos, pra que tê-los?

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Por Mariana Lobato Botter – @mari.loba

Desde que tive meus filhos, sinto que tenho muitos conselhos para dar a futuras mãe e a mulheres que se perguntam se querem ser mães. Mas lembro que receber conselhos quando estava grávida era a coisa que mais detestava. Por isso escrevo este texto. Fica a critério da leitora seguir ou não.

Antes de tudo preciso confessar uma coisa: quando olho para uma mulher grávida do primeiro filho meu sentimento inicial é sempre de pena. É triste, eu sei. Mas não é pena porque eu ache que ser mãe seja algo intrinsecamente ruim. Longe disso. Mas porque eu tenho absoluta certeza de que quando uma mulher está grávida ela não faz ideia do que vai acontecer com a sua vida depois que a criança nascer. Muitas vão ser mais felizes que antes, muitas vão ser mais infelizes. Nenhuma será, jamais, igual.

A primeira gravidez passa para boa parte das mulheres de forma tranquila. As mulheres com que mais convivo, que têm condição de ir a bons médicos, têm casa e comida, a maior parte tem marido dando apoio, leva tranquilamente esse pedaço. A parte mais chata são os palpiteiros, alguns enjoos, o sono e as preocupações. Que já começam aí.

Então vem o parto. Não importa o que aconteça no nascimento, este será um momento marcante. A mulher vai olhar de frente a dor (provavelmente a maior que já sentiu) ou vai passar por uma cirurgia. Vai ficar vulnerável. Vai ficar nua na frente de estranhos. Na maioria das vezes não vai poder decidir sobre para onde vão levar seu filho nos primeiros minutos de vida dele.

Quando receberem o filho nos braços, algumas vão amá-lo imediatamente, outras não. Amor se constrói. Mesmo amor pelos filhos. Por outro lado, com amor imediato ou sem, dali para frente, tudo o que passar pela cabeça dessa mulher, toda decisão que ela tomar, vai passar pelo filtro de “e meu filho?”.

Vou tomar banho: “será que ele vai chorar?”

Vou sair para um café: “com quem ele vai ficar?”

Vou aceitar um emprego: “quantas horas vou precisar ficar longe?”

Vou até o parquinho: “tô levando tudo que preciso?”

Vou aqui ler/escrever este texto: “será que ele está bem na escola/com a babá/ com o pai?”

Para além das famosas noites mal dormidas e das trocas de fralda, para além da amamentação. Essa mulher está agora prisioneira dos próprios pensamentos em relação à criança, da cobrança dos outros. Seus sonhos têm que ser reacomodados. Suas ambições são diminuídas.

E daí me perguntam: e o pai? Bom, o pai pode ser um grande parceiro. O pai pode em teoria até substituir a mãe (e talvez sofrer boa parte de todas essas consequências, com um pouco mais de condescendência da sociedade, é verdade). 

Mas o fato é que, ainda hoje, a grande maioria dos pais não o faz. Tem uns que têm coque e barba, carregam o bebê no carregador de pano, fazem até discurso no Instagram dizendo o quanto sua mulher é maravilhosa e quanto os pais devem dividir o serviço. Mas pai que planeja, que pensa tudo o que faz em função de filho, que é perguntado em entrevista de emprego se tem filho e com quem vai deixar se precisar viajar ou fazer hora extra, bom, esse pai ainda é uma espécie rara e, quando aparece, vira notícia em jornal.

Para além de tudo isso, filhos testam os limites do pai, da mãe e do relacionamento. Os pais não fazem, as mães se sobrecarregam, as mães cobram. Os filhos fazem birra, os filhos não dormem, quebram coisas, são ingratos. Em muitos momentos a mãe vai pensar “por quê?”, “Por que eu tive filho?”.

Quando tiver que sair antes do trabalho e todos olharem com cara feia, quando brigar com o parceiro todos os dias por causa das divisões das tarefas domésticas, quando a criança demorar para dormir e tiver que acordar cedo no dia seguinte, quando a criança tiver um chilique em um local totalmente inapropriado, quando tiver que desistir de uma viagem/de um passeio/de um relacionamento. 

Ela vai se perguntar por que. E vai se sentir a pior das pessoas no minuto seguinte. Afinal, que mãe se arrepende de ter sido mãe? Que mãe não acha que o amor que sente pelos seus filhos vale cada esforço?

Acontece que mãe não sofre o tempo todo. Mãe tem recompensa. Mãe recebe amor incondicional dos filhos. Recebe “eu te amos” sinceros. Mãe vibra com a conquista dos pequenos até quando são adultos e já têm filhos. Mãe se diverte no escorregador do parquinho, na peça infantil, no recital da escola. Mãe fica amiga de outras mães. Mãe entende a própria mãe. Mãe vê gargalhada de criança todo dia. Mãe tem a oportunidade de formar uma pessoa, de passar valores, de ensinar. Mãe morre de orgulho.

Ser mãe é bom. Ser mãe tem custos. Como tudo na vida, antes de decidir é preciso pesar os custos e os benefícios. E ter muita liberdade para decidir. Buscar, conquistar essa liberdade, não é simples. E essa escolha é cruel porque a gente não tem como dimensioná-la antes de fazer a opção.

Por tudo isso, para aquelas que ainda não decidiram: pensem bem! Para as que já não tem mais uma escolha ou já decidiram: preparem-se, protejam-se, cuidem-se e aproveitem a parte boa, afinal, você pagará caro por ela!

Sempre lembro do “Poema Enjoadinho”, do Vinicius, que ouvi milhares de vezes dos meus pais e só recentemente pude entender.

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