Mulheres-mães protagonistas da própria história

Espera

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Espera. A gente carrega por meses aqui dentro; cresce, nasce e cresce.

Espera. A gente também nasce.

Espera. Confesso que quando cheguei na maternidade com aquelas infinitas maiores contrações, aquele momento em que eu tinha a certeza que o meu corpo se desmontaria, lembrei que eu nunca saltei de paraquedas por medo de perder a minha integridade física e também me esquivei daquelas posições de yoga porque não achava possível que o corpo voltasse à “normalidade”.

E ali naquele momento pensei: “Por que eu fui arranjar isso agora na minha vida? Por quê?”

Estava de boas com a serenidade de quem passou dos quarenta de boas e com uma filha criada. E agora aquelas contrações infinitas e eu ali esperando a tal da triagem. Entre uma contração e outra, ainda há um espaço pra pensar, formular questões e se julgar. “Na certa que vão me esquecer nessa salinha com essas cadeiras duras! E a gente sempre considerando que viajar sozinha poderia ser perigoso para uma mulher! Não. Espera só você precisar que a obstetra esteja e ela não está, ou que está em um parto complicado. Sim, existe parto complicado, além de ser parto ainda pode ser complicado!”

Espera. A gente vai pra maternidade, sente e pensa: “Agora sou eu! Agora é comigo! Ninguém vai parir por mim e em algum momento vão te dizer: “Mas é um pouco tarde com 43 anos senhora, não acha?” Por que em algum momento alguém ia fazer este comentário! Foram gentis durante o pré-natal e agora não serão, vão reparar.”

Aí chega a obstetra e já pra sala de parto; já vai nascer. “Eu sabia, é meu segundo parto, a gente não corre pro hospital na primeira contração! A gente espera e dá quase pra parir no caminho no carro do amigo.”

Desculpa. E o teu parto é o primeiro da manhã, uma equipe tranquila, um silêncio, dá pra pedir música e você pede. E tudo bem que a médica coloca a versão do Roberto Carlos quando a que você esperava era a versão do Chico! Você faz a observação e ainda dá tempo de fazer graça! “Deu tempo de fazer graça e o guri ainda dentro. Qual o nome? A gente não conseguiu escolher! Decidimos esperar pra ver a carinha dele. Se tivesse nome dava pra chamar, ajudava!”

Aí nascemos! O guri chorando e eu sorrindo. E você se sente tão forte que pode correr em uma maratona na semana seguinte de tão plena, forte e grata! Dá uma vontade de abraçar todo mundo de tanto amor que cabe agora em seus braços. E não importa que nos próximos meses o café esteja frio (até que importa um pouco, mas você espera que o próximo você conseguirá quente – a xícara toda!). E você espera os meses seguintes e os meses seguintes tardam. Você já tá tomando café frio e achando bom, porque esse pacote de amor que repousa em teus braços já te seduziu com seu cheiro, seu bocejo, suas bochechas e seu cabelo brilhante no sol.

A gente espera que a próxima noite não seja mal dormida – a gente espera! O que a gente não espera, porém, e sempre acontece, é uma pia cheia de louça. Robusta a pia, enquanto o teu corpo definha e você se torna quase uma mulher calva de tanto cabelo que encontra pela casa. Mas os teus braços ficam mais fortes e com olheiras você sorri porque recebe um olhar que te devolve a bebida quente, os cabelos, o sono…

Sim, a maternidade é essa novidade diária, sem tédio e com um desejo até monótono, constante que é a espera de dormir novamente uma noite inteira.

Autora: Marlei Albrecht – @marleialbrecht
Revisão: @lougandini

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