Dizem que nossos pais são nosso porto seguro. Para mim são mais que isso; eles são um continente inteiro.
Um lugar gigantesco, lindo, do qual brotamos, somos nutridos, fincamos raízes a força e até que sem perceber nos tornamos parte dessa terra fértil e poderosa. Passamos por dias de sol, dias de seca, dias frescos, dias de flores e dias de outono. Nem tempestades podem abalar o poder do continente!
Infelizmente esses continentes se encontram sobre enormes placas tectônicas que, de anos em anos, se movimentam e se chocam ferozmente umas contra as outras, fazendo a terra poderosa tremer e rachar ao meio separando um monte de rochas enormes em pedaços. A separação é tão brusca e violenta que é impossível uma parte encontrar a outra. Você pode até avistar ao longe um pedaço de terra da qual você fez parte um dia, mas nunca mais poderá nutrir suas raízes nela, sentir a umidade da terra e fortificar suas folhas.
Foi exatamente assim, quando há 10 dias meu pai morreu. Uma sensação terrível de medo e perda tomou conta de mim. O grande pedaço de continente de onde eu vim se deslocou e eu nunca mais poderei tocar com minhas mãos. Mas agora, nosso lugar se transformou numa nova terra, com disposição diferente e não menos bonita. Aquele lugar deixou sementes frutíferas e elas brotaram em mim também.
Agora meus dois filhos, Sara e Pedro, e meu sobrinho Lucas, mantêm as sementes do vovô Dudu vivas, e assim será com os filhos deles e os filhos deles, e os filhos dos filhos dos filhos…
Por: Priscila Murback – @primurback
Revisão: @lougandini.