Mulheres-mães protagonistas da própria história

Como tratar da perda de um filho?

Como tratar da perda de um filho?

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Por: Alana Tenório – @a_lanatenorio 

Maio é um mês cheio de significados para mim. É o período que as mães ganham almoços, presentes e homenagens. Particularmente, é o mês que minha filha nasceu e que eu perdi meu primeiro filho. 

Dois anos atrás eu estava eufórica e perplexa por descobrir que estava grávida. Era um carnaval na Sapucaí em cada célula do meu corpo. Mas, todo carnaval tem seu fim como diz a música. 

Poucos dias depois comecei a ter sangramentos. As paredes frias e choronas dos hospitais anunciavam que eu deveria me preparar para um 4b0rt0. Entre toques, apertos, residentes olhando a minha vulnerabilidade. Ah, como foram insensíveis. 

As semanas passavam. Eu vivia a base de remédios para cólica e dor. Eu me senti só e não sabia dizer isso. 

Eu tive covid com 12 semanas de gestação no auge da contaminação no Rio de Janeiro. Uma semana depois, dia 20 de maio, vou mais uma vez para a emergência e lá afirmam que meu colo está aberto. 

Ali eu senti que um buraco escuro e frio me sugou. A ultrassonografia mostrava um embrião grande e esperto, e que olhou para a direção do aparelho. Essa imagem ficou gravada na minha memória. Foi a sua despedida. Poucas horas depois, eu descobria a dor de perder um filho. 

É uma dor que ninguém te entende. Você vivência sozinha. As pessoas dizem que estão tristes por você ou que logo terá outros filhos (de fato, três meses depois descobri que estava grávida). 

Eu mergulhei num oceano gelado e escuro. Não sabia pedir socorro e quem estava do meu lado me julgava por não conseguir reagir. Quando não diziam que eu deveria me tratar. “Como tratar da perda de um filho?” eu pensava. Eu apenas vivia no automático. Chorava sozinha e contava quantas semanas eu estaria se não tivesse perdido. 

Mas, aos poucos fui voltando para a superfície para respirar. Engravidei novamente. Eu não conseguia me conectar com o bebê que crescia no meu ventre por medo. Era uma menina e muito sapeca. Fazia piruetas nos exames de ultrassonografia. Era como se ela falasse “pode me amar também? Estou aqui. Eu sou o agora.” 

Enquanto escrevo esse relato ou grito, a minha filha dorme aqui do lado. É a minha companheira de vida. Eu passei a viver o agora, o hoje. Perdi meu pai e em seguida encarei uma separação traumática, vivo uma maternidade solo, mas vivo o presente. 

Contudo, por mais que a gente escreva um livro, faça tatuagem, inclua na família, tenha algum objeto afetivo para recordar desse filho que partiu. É uma história que ficou aberta. É um grito que ficou preso na garganta e que rasga o corpo por dentro. Eu gostaria de poder berrar até perder o fôlego para tirar todas as vezes que precisei engolir o que sentia e não conseguir digerir a falta de compreensão pelo luto. 

Eu gostaria de poder sentir a perda do meu filho sem ser criticada e menosprezada. 

Revisão: Gisele Sertão- @afagodemaeoficial 

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