Mulheres-mães protagonistas da própria história

Como dar conta de tudo?

Como dar conta de tudo?

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Por Aline Sanches – Psicóloga. CRP: 06/76316 – @psicologalinesanches

Quem disse que eu queria dar conta de tudo? Quem disse que por ser mulher tenho que fazer tudo isso? Onde estão escritas as regras mostrando que tenho que ser super-heroína? É difícil carregar tudo sozinha. 

O outro dentro da sua casa não percebe que o fardo está pesado. Não se toca que o lixo do banheiro está cheio, que a comida já está há dias na geladeira e vai estragar. 

Às vezes me pergunto, por que me queixo tanto, já que tenho estabilidade financeira, um marido presente e que faz de tudo para trazer as coisas para casa, filhos saudáveis e uma profissão que amo e que me permite flexibilidade para dar conta de todos os papéis que tenho que exercer durante 24 horas de um dia.

Acho que o primeiro papel que me define, que infelizmente me pergunto se deveria ser este o primeiro, é de mãe. Mãe de duas crianças, um pré-adolescente e um cachorro. Depois vem o de dona de casa, administrar uma casa com todos os afazeres domésticos: limpeza, alimentação, lista de compras, roupas para lavar etc. E não faço isso sem a ajuda de uma diarista, porque aí também, seria demais. 

Ela me ajuda com a casa, com a cozinha e com a minha filha menor. Me pergunto como outras mulheres dão conta, vejo em rede social lindas, harmoniosas, invejo e sinto muita raiva delas por tudo isso (por que queimamos este maldito sutiã?). 

Enlouqueci na pandemia, tive que procurar psiquiatra, ser medicada e tento até hoje me manter equilibrada e não descontar nas crianças e marido mais frustrações, angústias e pensamentos (quebrei celular na parede, soquei uma porta de vidro que estilhaçou todinha e tinha pensamentos de jogar meus filhos, quando choravam ou reclamavam, pela janela)… e falando sério, o que eu mais ouço quando falo que sou mãe de três, mais cachorro, mais casa, mais crossfit, mais consultório, mais esposa é: “como você dá conta?! Deve ser uma super-heroína”. 

Eu dou o sorriso amarelo, e respondo: “não é fácil, mas a gente tenta manter uma organização”. Eu me pergunto: se eu fosse uma mulher, na mesma posição no trabalho do meu marido, eu ficaria o dia todo focada no trabalho, sem me incomodar com criança gritando, se tem comida suficiente para as crianças almoçarem, se dará tempo de ir ao médico e retornar para voltar a trabalhar? 

Acredito que não, tenho certeza de que iria pedir licença na reunião para acudir meu filho chorando. Que iria abrir espaço na agenda para levar ao médico, fazer compras, etc. Não vejo incômodo, angústia, disposição para ser mais atuante e participativo… e me pergunto novamente: por quê? Por que faz parte do masculino não se preocupar com coisas que não sejam o dinheiro no final do mês para pagar escola, contas, alimentação e diversão? Por que tem alguém que faz por ele? E se ele não tivesse esposa, como faria com três filhos e casa? 

Os papéis estão sufocando, tento não transparecer, tento mostrar ao mundo que dou conta, mas vejo que cada vez mais estou perdendo o papel principal: eu.

Quem é esta mulher em que me transformei? Organizo a agenda física e emocional de três seres humanos, um animal, a minha agenda pessoal e profissional e a agenda da casa.

Vou citar aqui alguns dos papéis que exerço em um dia, começando às 6h: mãe, cozinheira, motorista, dog walker, crossfiteira, dona de casa, psicóloga, recreacionista de filho, ajudante de lição de casa, organizadora de agenda de pré-adolescente, leva e traz das atividades escolares e não escolares, leitora e inserção de assuntos de psicologia, dá banho e jantar, arruma a mochila, lancheira e uniforme, volta a ser psicóloga no online ou consultório (não preciso colocar os filhos para dormir)… aí vem o grand finale, sendo este papel que me pega mais, onde me sinto sempre culpada e devedora: ser a esposa amante. 

Como sair de todos estes papéis, virar a chavinha e falar: “agora pode vir, minha cabeça está vazia, estou me sentindo sexy”. Cadê a mulher? Quem eu sou? Transo com o marido para agradá-lo, para comparecer, mas o que eu queria era silêncio, o meu silêncio… Não quero mais um papel a exercer para alguém que fez três papéis no dia: malhador, trabalhador e pai.

Quais são os meus planos futuros? Que futuro?!

Para o bonde que eu quero descer!

Texto revisado por Stefânia Acioli

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