A minha volta ao trabalho não foi muito dramática. Minha filha já estava bem acomodada na escolinha, a adaptação havia sido, dentro do possível, muito boa, e eu não poderia estar mais contente em voltar ao trabalho.
Não que eu estivesse feliz em ficar 8 horas diárias sem vê-la, mas eu tinha certeza de que ela ficaria ótima sem mim. Eu sempre amei de paixão a escola, e tudo o que faz parte desse universo de luz que é uma escola, uma universidade, um lugar onde tivessem muitos dos meus iguais e ainda de quebra pudéssemos aprender e brincar juntos. Sofia parece compartilhar da minha opinião e vibrou desde o começo em estar no meio de outras crianças por isso não poderia estar mais tranquila em deixá-la ali durante o meu trabalho.
No Brasil sempre trabalhei na área da educação, como professora, professora assistente e estagiária dentro de sala de aula. Aqui, por não ter o reconhecimento completo do diploma, minha área de atuação passa a ser muito mais limitada. Passei de ser professora para ser o que chamamos aqui de “cuidadora de crianças”. Não há absolutamente nada de errado em trabalhar com crianças em idade de creche, mas eu nunca quis trabalhar nesse nicho. Não posso exercer a minha profissão do modo como gostaria e sinto que é um problema de grande parte das mães expatriadas com que tenho contato.
Conseguir um emprego dentro de nossa área de formação, pagando bem e ainda por cima se sentir completamente realizada com esse emprego em outro país é um milagre. E no começo foi assim comigo. Quando comecei a trabalhar aqui, um ano antes de engravidar, estava realizada. Não podia estar mais grata ao emprego que havia conseguido.
Depois da gravidez foi uma experiência um tanto quanto diferente. Não sei se por que eu agora tinha uma criança de um ano em casa e precisava ter mais paciência e tempo para ela, ou se simplesmente algo mudou drasticamente dentro de mim e eu não conseguia mais aceitar a realidade de viver trabalhando em um lugar onde não só me sentia desvalorizada como profissional como também sabia que não conseguiria exercer o que, para mim é o que nasci para ser, que é o professorado.
A frustração de voltar do trabalho diariamente, cansada e ainda ter a casa e a filha pela frente para o round 2 começou a corroer a minha alma. A melhor parte do dia era estar em casa com ela e eu sentia cada vez mais que isso não poderia ser aproveitado pelo fato de eu já chegar em casa devastada pelos problemas do trabalho.
Depois do nascimento de Sofia tudo parece tão pequeno e sem sentido. As coisas muito comezinhas passam a ter nenhum espaço na minha cabeça e na minha vida. E é isso que acontece com muitas das minhas percepções sobre algumas situações do trabalho. Nada daquilo faz mais sentido.
A ideia de que nada mudaria tão cedo e de que eu precisaria de um tempo (que eu não tenho) para me reestruturar como profissional e procurar alternativas aceitáveis estando em um país estranho arrebatava minha alma.
Queria terminar o texto dizendo que achei uma alternativa para a minha vida e agora estamos todos lindos, plenos e felizes cada qual com sua função aqui em casa. Infelizmente essa ainda não é a realidade e eu sigo trabalhando com algo que suga a minha vida. No entanto, quero dizer que há sim uma iluminação no fundo desse túnel que parece sem fim.
Escrever e poder trocar experiências com outras mães tem sido uma redescoberta todos os dias. Eu descubro mais pedaços de mim do que jamais poderia imaginar possível por conta dessas experiências. E assim, sigo, pois sou mãe, e mães tem dessas, têm sempre um PhD em continuar.