Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA | Relato de parto Alice

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Eu sempre quis ser mãe.

Quando eu era pequena e me perguntavam o que eu iria ser quando crescesse, eu respondia: artista e mãe.

A primeira novela que assisti foi: “Barriga de aluguel”, e eu sempre tive uma “adoração” por gravidez, bebês e crianças. Hoje eu sei que é um dos meus hiperfocos.

Eu e o Danilo sempre desejamos ter uma família. Sonhamos com uma casa com cachorros e crianças correndo para todos os lados. No final de 2017, começamos a planejar a gravidez para dois anos depois, afinal, a ginecologista disse que podia demorar algum tempo até eu engravidar, após interromper o uso de anticoncepcional que usei por mais de 10 anos.

E logo no primeiro ciclo engravidamos, no entanto, rapidamente, nosso bebê virou um anjinho, e, ao mesmo tempo, fui diagnosticada com transtorno bipolar. Até pouco tempo as mulheres com este diagnóstico eram orientadas a não engravidar. Foi o pior momento da minha vida até então. Com isso, repensamos se queríamos mesmo ser pais, e após eu decidir novamente ser mãe, fiz todo o meu tratamento focando em estar bem para engravidar.

Então, me esforcei bastante para estar em remissão e poder ter meu bebê o mais tranquilamente possível.

No ano de 2020 decidimos que no segundo semestre iríamos começar a tentar novamente. Em março veio a pandemia e decidimos adiar mais uma vez nosso sonho, mas nossa filha tinha decidido vir dessa vez, e em primeiro de julho, engravidamos novamente.

Eu que já estava de férias, desde antes da pandemia, passei a gravidez toda em casa. O que para muitos era uma situação bem desagradável, para mim foi uma benção. Menos ansiedade, mais tempo para mim e para a família. Consegui ter a rotina que sempre desejei, e investi tudo que tinha nessa gravidez: tempo, dinheiro e dedicação. Foi o melhor momento da minha vida!

Eu que sempre quis engravidar e sempre pesquisei sobre maternidade, mergulhei neste tema e estudei mais a fundo sobre: parto, gravidez, fralda de pano, higiene natural, introdução alimentar, amamentação, sono do bebê, educação neuro compatível, educação montessoriana, vacinas públicas e privadas, criação com apego, feminismo e criação sem gênero, comunicação não violenta, disciplina positiva, treinamento positivo dos cachorros e nossa alimentação.

Fiz fisioterapia pélvica, pilates, spinning babies, acupuntura, usei floral… Inclusive, eu já sabia como que meu parto seria: um parto natural e quem sabe, orgásmico! Mas outros planos estavam reservados para nós.

Engravidei com sobrepeso, no limiar da obesidade, e há quase uma década havia retirado toda a tireóide por causa de uma doença autoimune. Isso já me colocava em uma gravidez de alto risco. Além disso, desenvolvi diabete gestacional e tive que tomar insulina.

Até a metade da gravidez eu estava melhor do que nunca, mas houve o reaparecimento das crises, que foram aumentando até se tornarem diárias, algumas vezes, durante todo o dia.

Usei a medicação no máximo permitido. Todos esses problemas resultaram em indicação da indução do parto com 38 semanas. Então, no sábado à noite internamos para induzir com balão duplo, que é um método mecânico e poderia permitir ter o meu tão sonhado parto natural.

Passei a noite sem dormir, enjoada e com diarréia, (não sei se foi ansiedade ou a comida japonesa que comemos para nos despedirmos da vida de casal sem filhos…).

Com cerca de 10 horas, o balão mais externo se soltou – o que foi o mais próximo de expulsivo para mim.- Perguntavam se eu sentia algo, mas eu não sentia nada.

Normalmente os dois balões caem juntos, porém um exame de toque verificou que eu estava muito tensa no lado direito, por isso, foi colocado ocitocina para facilitar a expulsão do balão mais interno.

Com quase doze horas depois da colocação dele, ele não havia caído completamente. Quando o balão saiu eu já estava com 5 cm e permiti que a bolsa fosse estourada. Chegamos em 6 cm logo depois, mas eu ainda não sentia nada.

Por meio do monitoramento fetal, foi verificado que estava tendo contrações e a medicação foi aumentada. Já que eu não sentia nada, a ocitocina poderia acelerar o trabalho de parto. Ficamos muito felizes. Eu achei que seria daquelas que não sentem dor, que o parto seria rápido. Que até 12h a Alice estaria em meus braços. Exatamente como sonhei!

Entretanto, eu não tive evolução. As contrações haviam cessado após cerca de uma hora do seu início. Eu fiz respiração, spinning babies, cantei, dancei… A Carol fez acupuntura e aromaterapia.

Após 8 horas de ocitocina sendo aumentada progressivamente, não houve evolução. Sempre perguntavam se eu não sentia alguma coisa, me falaram que com menos dose de ocitocina a maioria das mulheres já pediam anestesia.
Alice estava bem, mas eu corria risco de ter intoxicação hídrica (tomei quase 600 de ocitocina). A indicação de cesárea foi necessária e eu aceitei.
Estava cansada e frustrada e morria de medo da cesárea.
Eu já havia feito 5 cirurgias com anestesia geral e ainda passo mal quando tiro sangue. Perguntei como seria se me sedassem, para que eu não passasse mal no nascimento da minha filha. Decidimos que seria melhor ela nascer, e depois me sedariam, se necessário.

Não foi necessário. A equipe foi maravilhosa! Cheguei no bloco cirúrgico e o anestesista foi maravilhoso, inclusive me tranquilizou muito durante o processo! A Liliane ficou comigo até o Danilo entrar, sempre segurando minha mão e me acalmando.

As médicas fizeram o parto tão rapidamente que eu quase não percebi que já estava sendo cortada. Minha filha veio para mim em uma cesárea super humanizada ao som da nossa playlist. Eu estava cantando: “Um anjo do céu – Maskavo” para ela quando nasceu. Nossa golden hour durou quase 4 horas!

Dois dias depois do parto vimos que esquecemos de colocar no quarto o que preparamos: o varal de luz, as fotos, as mensagens para o parto… Não usei minhas roupas – achei que só tinha levado roupa de frio e esqueci das que comprei – Mas ela nasceu ao som das músicas que escolhemos!

Meu parto não foi nada do que planejei, porém foi tudo o que eu precisava.

Logo depois dei uma melhorada, mas no mês seguinte as crises voltaram. Identificaram que eram crises de ansiedade bem graves, e não de transtorno bipolar.

Em 01/11/2021 recebi o diagnóstico de autismo. Até então, foram décadas de tratamentos diversos, inúmeras reações, inclusive fui parar na emergência por reação medicamentosa no meu primeiro aniversário com a Alice. Ela tinha 3 meses.

A maternidade tem sido caminhar no deserto em meio ao oásis. Eu romantizei muito tudo e ainda sofro com isso, contudo, nunca cresci tanto em tão pouco tempo! E acompanhar o desenvolvimento da Alice está sendo maravilhoso!


Texto revisado por Vanessa Menegueci.

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