Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA – Querida matrescência, muito obrigada por tudo

COLUNA – Querida matrescência, muito obrigada por tudo

Compartilhe esse artigo

O matrescer é tal como mudar de país; é reconstruir-se em solo árido.
Espaços vazios e desconhecidos do tamanho de um penhasco que se descortinam bem em frente aos seus olhos.
Muitas vezes não há compaixão, compreensão, comprometimento com seu bem-estar, colo… tudo o que devemos ofertar de tão bom grado a nossos rebentos nos é vilmente negado.
Ainda assim, a maior dificuldade se instaura, na verdade, do lado de dentro. Não é preciso que seus pés estejam longe de suas raízes para que o rombo profundo na sua personalidade se instaure ao perceber um bebê nos braços. Não foi só o útero que se esvaziou. Não foi só o corpo físico que se transformou.
Nenhum outro tipo de experiência é comparável ao ato de se tornar mãe. Existe uma lenda Cherokee, que diz que quando em trabalho de parto, as mães saem de seus corpos e vão até o céu buscar seus filhos. Eu não duvido. Saímos de nossos corpos e voltamos já transformadas, envoltas em pó cósmico, num abrilhantar celestial.
É uma ótima explicação do porquê uma mãe ao segurar um desconhecido pela primeira vez no colo, já entregar toda sua vida a ele. Sua atenção, amor, afeto. O coração que passa a andar fora do corpo. Aquela mulher nunca, nunca mais será a mesma.
Uma vez que nos entregamos de corpo e alma nessa missão, ao receber e encarar o novo título, não há nada que possa nos deter.
E não se trata de um processo simples. A matrescência se constrói dura e lentamente ao longo dos dias infindáveis ao lado de um recém-nascido. Ideias que param incessantemente, como uma perturbação sem fim.
Se o bebê chora a culpa é minha, o que eu estou fazendo de errado?, se eu não amamentar vou com certeza traumatizar, se não fizer cama compartilhada também, se não falar cedo ou andar a culpa é só minha e de mais ninguém. Eu juro que uma hora essas vozes param. Podem levar meses, ou até anos, mas elas sempre param. A mulher se reencontra. Na sua melhor versão.
Eu tinha uma fantasia completamente maluca de que quando a minha filha nascesse nada mudaria. Somente o fato de que agora haveria uma criança entre nós, e de criança eu sei cuidar! A queda minhas amigas, não foi grande, foi a maior de todas.
Tudo mudou. O nascimento do bebê não deixou pedra sobre pedra nas nossas vidas.
E eu sou muito grata por isso. Como ser mãe trouxe crescimento e amadurecimento na minha vida nunca mais nada vai trazer. Eu vivo hoje embriagada por uma gratidão sem precedentes.
Há muito pouco tempo que eu finalmente me reencontrei. Como mulher, esposa, filha, profissional. O ser mãe é hoje a liga entre todos os outros papéis. Nasceu em mim depois do matrescer uma nova mulher. Uma versão incrível de mim mesma. Que eu nunca poderia imaginar que existisse.
Somente passar por todas as adversidades às quais fui submetida nesse árduo processo do gestar e do matrescer que tive a oportunidade de me encontrar.
E eu realmente acredito que em algum ponto, cada uma de nós mães conseguimos enxergar tudo isso.
Por isso, meu enorme e mais sincero obrigada à maternidade e ao matrescer.
Que viajem incrível!

Compartilhe esse artigo

Leitura relacionada

Últimos Artigos

Deixe um comentário