Mulheres-mães protagonistas da própria história

A Mulher-mãe no contexto acadêmico

A Mulher-mãe no contexto acadêmico

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Quando iniciei a faculdade de psicologia, eu já era casada, já tinha uma filha, trabalhava e cuidava dos afazeres domésticos. Se eu falar pra você que era fácil, que eu dava conta de tudo, não estaria falando a verdade. Humanamente é impossível dar conta de tudo. Sem falar em lidar com comentários maldosos, preconceituosos e totalmente desnecessários, os quais as mulheres que não se definem pela maternidade enfrentam.

A universidade exige dedicação, entrega e constância, tal como a maternidade. Em alguns momentos eu me sentia angustiada. Então, decidi largar o trabalho CLT e me tornar empreendedora, ser dona dos meus horários e conciliar a maternidade com os compromissos acadêmicos. Fiz durante a graduação tudo aquilo que fosse possível para mim: extensão, projeto de pesquisa, eventos acadêmicos, publicações e organizações de eventos.

Me organizava para fazer minhas atividades acadêmicas no período em que minha filha estava na escola e, quando precisava, não hesitava em pedir ajuda a minha pequena rede de apoio formada. Em outros momentos tive que levá-la pra faculdade comigo; ela amava. E se você me perguntar se eu me sentia culpada em ter que, às vezes, passar o dia todo fora de casa, eu respondo com toda certeza que não! Eu me culparia em não realizar meus planos, não me autorresponsabilizar e mandar o saldo negativo das minhas frustrações para ela.

O tempo passou e eu vivi um processo lindo de autoconhecimento e amadurecimento pessoal com o curso e com a psicoterapia individual. Estava na reta final, cheias de planos, sonhos e faltando um ano para concluir o curso. Eu engravidei e fiquei bem preocupada; já imaginava o que me esperava, mas não sabia que seria tão desafiador. Olhe que nem imaginava que no meio do caminho tinha uma pandemia!

Passei por olhares tortos e falta de empatia. Enfim, essas são umas das muitas dificuldades que uma mãe Universitária passa, a ponto de ouvir de uma professora que seria praticamente impossível conciliar o puerpério e os trabalhos acadêmicos, que outras colegas acabaram desistindo, e que compensam as faltas durante o período de licença maternidade de 90 dias. Busquei informações na secretaria acadêmica e fui aconselhada a trancar o curso, que seria mais viável, pois o bebê nasceria em março e eu só concluiria em junho o estágio. Outra coisa é que licença maternidade não cobre aulas práticas e estágio.

Foi angustiante! Ouvir cada palavra era como se meu sonho, que demorei tanto pra realizar, fosse desperdiçado. Levei minhas dores para terapia, ambiente que me senti tão acolhida. Talvez o único onde poderia falar sem julgamentos. Com o processo psicoterápico compreendi que não era o fim. Pra uma mulher gestante que está vivendo com um turbilhões de emoções, tudo é demais e é intenso, devido às oscilações hormonais e ao ambiente.

Foi a partir do processo psicoterápico que pude entender o que estava acontecendo comigo. As coisas tinham tomado uma proporção diferente do que tinha planejado, mas eu sabia do meu propósito, e isso me fez ainda mais resiliente. Cancelei o estágio e fiquei com as disciplinas, já que poderia ficar online. Um mês depois veio a pandemia e tudo passou ser online, mas já havia cancelado e não tinha como voltar. No outro semestre conclui o estágio na modalidade online mesmo.

Com a pandemia as universidades tiveram que se reinventar. A modalidade online chegou conosco fazendo avançar no mínimo uns 10 anos, e os estágios na universidade passaram a ser online. Acredito que precisamos de mais representatividade feminina na política, em defesa de uma sociedade mais igualitária.


Autora: Fabiana Lima, psicóloga clínica e perinatal crp:15/6148. Atuo com saúde mental da mulher, ajudo as desejam tornarem-se mães, viver uma maternidade mais leve. @psique_materna.


Este texto foi revisado por Luiza Gandini.

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