Mulheres-mães protagonistas da própria história

A mãe e o direito a amar a si própria

A mãe e o direito a amar a si própria

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Ninguém deve permanecer num relacionamento tóxico. Esse tipo de conexão a ser evitada tem especificidades que variam caso a caso, mas alguns alertas generalistas ajudam a apontar a necessidade de distanciamento. Por exemplo, se rotineiramente há atitudes desrespeitosas, com a elevação do tom de voz, transformando conversas em discussões ou brigas. Essa situação pode ser agravada caso, em algumas dessas ocasiões, além de gritos, também houver palavrões e/ou xingamentos.

Outro sinal de alerta é se o outro critica cada pequena ação sua, te desvalorizando o tempo todo. Ou se te exige favores como se fossem sua obrigação. Necessário observar também se o outro te culpa por todos os seus próprios problemas, não assumindo qualquer responsabilidade para si. Também é preocupante quando você perde o direito de fala, quer seja porque o outro te ignora e te dá o tratamento de silêncio, quer seja porque suas falas são interrompidas, muitas vezes por gritos.

Outro sinalizador de um relacionamento tóxico pode ser quando o outro usualmente te constrange em público. Mais um exemplo, é quando o outro usa manipulações para tentar te afastar das pessoas que você gosta. A invasão da privacidade também costuma acompanhar relacionamentos tóxicos, com vigilância sobre mensagens de celular e desdobramentos sobre as interpretações de cada diálogo registrado. Algumas vezes, o corpo sinaliza as consequências desse relacionamento com unhas roídas, perturbações no sono, gastrite ou alterações em hábitos alimentares.

Infelizmente, a lista de sinais de alerta para um relacionamento desse tipo é grande e inesgotável. O único consolo é saber que, caso alguma ou algumas dessas situações estejam ocorrendo, na maioria das vezes, a solução é sempre a mesma, o que simplifica o processo de seleção de alternativas. O mais recomendável costuma ser o distanciamento.

Mas como toda regras tem exceções, existem as raras situações e que o distanciamento não é o mais recomendável ou sequer é possível. O que fazer, por exemplo, quando a pessoa que te trata dessa forma tóxica é seu próprio filho?

Claro que, como mãe, reconheço que minha responsabilidade pela construção desse relacionamento é maior do que em outros tipos de relações tóxicas. Numa sociedade que cobra das mães amor incondicional e instinto materno, essa responsabilização facilmente se transforma em culpa.

Ainda que este tipo de comportamento seja uma questão multifatorial, houve um passado em que eu ditava sozinha nossa forma de nos relacionar. Então deve existir alguma coisa que eu poderia ter feito para que nossa interação tivesse evoluído de forma menos destrutiva, mesmo que eu não consiga enxergar o que ou como eu deveria ter feito diferente.

Além disso, outro dificultador do afastamento nesse caso são meus deveres e obrigações maternos, como garantir o direito a moradia, alimentação, estudos e o atendimento às demais necessidades de um filho menor de idade. Reconheço minhas obrigações sem me esquivar.

Entretanto, sopesando todos estes pontos, continuo sendo uma mulher com direito a ser respeitada e a buscar minha felicidade. Meus outros filhos continuam tendo direito a viver num lar harmônico, presenciando situações de respeito mútuo. Continuo tendo todos os direitos que sempre tentei ensinar meus filhos a garantirem para si mesmos, ainda que eu tenha falhado nesse ensinamento.

Quando nasce um bebê, é usual a mãe ter a percepção de que pensa mais no filho do que em si mesma, que ama mais o filho do que a si própria. Depois de ter todos meus limites testados, concluí que é impossível amar alguém sem antes me amar. Ainda que eu não saiba como dar fim a este relacionamento tóxico, a primeira escolha já consegui fazer: escolho me amar, como todas as pessoas tem direito a escolher.

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