A grande dificuldade de educar um filho é que o processo envolve educar a si mesmo primeiro. Não é realmente possível ensinar um hábito saudável a um filho se você não for capaz de adotá-lo também. Sabe o arroz integral, o alface, a beterraba, a cenoura, a ervilha e o creme de abóbora? Você também vai precisar comer. O tempo de tela também vai precisar ser reduzido para você. É assim que funciona.
E pode aplicar essa linha de raciocínio para todo resto.
O autocuidado, o equilíbrio, a capacidade de lidar com as frustrações, a coragem, honestidade, gentileza e todas as demais qualidades que gostaríamos de ensinar aos nossos filhos, precisamos cultivá-las em nós primeiro, diariamente, praticando.
Precisa ser uma realidade a ser vista e imitada.
Foi reclamando com a minha filha que ela estava sendo muito reclamona que percebi o paradoxo, a incoerência. Não dá para ensinar a parar de bater, batendo, nem a parar de gritar, gritando, porque o discurso não é absorvido tanto quanto tudo que é visto e vivido. Mas já sabemos, não é? O segredo está no exemplo, o que não é segredo para ninguém.
Saber, contudo, não deixa mais fácil o caminho.
É difícil ser exemplo porque o exemplo carrega em si a responsabilidade do padrão que se perpetua no tempo. Mas, se por um lado, um filho eleva o grau de dificuldade da vida, por outro, não há nada que nos faça enfrentar as dificuldades, com tamanho empenho, como um filho.
Por eles, fazemos por nós mesmos o que talvez não fizéssemos se não fossem eles.
É isso. É difícil. Mas, se olhar com atenção, verá que há beleza e propósito nesta roda viva que gira ao infinito, porque não há maior incentivo evolutivo do que ter um filho.
Autora: Mila Wasconcellos. Instagram: @porondeescrevo.
