Mulheres-mães protagonistas da própria história

ESPECIALISTA | A Comida do bebê

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A maternidade traz muitas dúvidas e muitas certezas. Uma boa alimentação oferece ingredientes para o crescimento e desenvolvimento infantil, certeza. O que, como e quando oferecer? Dúvidas.

O excesso de informação e desinformação dificultam ainda mais esta tarefa doméstica. Modismos, extrapolações equivocadas de evidências científicas, publicidade, terrorismo nutricional e mitos populares estão no cardápio. Vou tentar descomplicar, mas que fique claro que a Nutrição deve ser feita em atendimento individualizado, respeitando a história clínica e sociocultural de cada um (inclusive dos pacientes menores de idade).

Durante a vida uterina, o bebê recebe tudo que necessita através da placenta. A alimentação da gestante garante os requerimentos energéticos e dos nutrientes para ela e o feto. Após o nascimento, o leite materno é o padrão ouro no quesito Nutrição; mas nem sempre é possível, então, existem fórmulas próprias para o recém-nascido. 

Aí, o tempo vai passando, o neném começa a ficar sentadinho, sustentando a cabeça, as mãozinhas agora estão ágeis e conseguem levar os objetos à boca com facilidade. Na boca, a língua já não está mais protusa (para fora). Agora, é preciso ficar atento porque os dedinhos fazem pinça e podem pegar pequenos itens e engoli-los! Olhos, boca e mãos começam a atacar os alimentos disponíveis…isso tudo acontece por volta dos 6 meses, uma idade onde o trato digestório amadureceu e já pode receber outros alimentos. Mas quais alimentos?

Essa aqui pode ser a orientação nutricional mais importante de sua vida (foi da minha). Seu filho terá o padrão alimentar da família. Isso te assusta ou te conforta? 

Você pode controlar o consumo alimentar durante um tempo, mas, não será sustentável se houver outros tipos de alimentos disponíveis e consumidos no mesmo ambiente. Confia. A alimentação infantil deve ser a da casa. Nos primeiros momentos de introdução alimentar, a textura e apresentação de alguns alimentos devem ser modificadas para facilitar a mastigação e, aos poucos, o prato infantil precisa ser semelhante ao prato dos adultos.

O famoso “paladar infantil” é resultado do marketing da indústria alimentícia cujos inúmeros produtos direcionados a este público nem são adequados nutricionalmente. Ou são desnecessários. O papa do bebê é comida de verdade, temperada com amor. 

Oferecer a mesma refeição da casa simplifica o trabalho de quem prepara. Simplifica e sensibiliza para que todos comam adequadamente. É interessante estabelecer a rotina de sentarem juntos para comer, aproveitando o momento para trocas efetivas de atenção e carinho, sem telas, olho no olho.

No prato, toda variedade possível: frutas, verduras, legumes, arroz, feijão, macarrão, pão… receitas de família. Evite os alimentos ultraprocessados, além do baixo valor nutricional, roubam a identidade da nossa cultura alimentar.

Os alimentos industrializados apelam pela praticidade e a falta de tempo para cozinhar, não caia nessa cilada. Invista em soluções mais eficientes como ter um cardápio único para casa, mobilizar todo mundo na produção (as crianças maiores podem auxiliar em algumas tarefas), deixar alimentos pré-preparados ou congelados, e não fugir do básico arroz-com-feijão.

Em 2019, o Ministério da Saúde atualizou as diretrizes para alimentação saudável e adequada para os brasileirinhos menores de 2 anos de idade, acompanhando as práticas do Guia Alimentar para a População Brasileira de 2015.

O Guia Alimentar para a População Brasileira menor de 2 anos** defende 12 passos para alimentação infantil:

1. Amamentar até 2 anos ou mais, oferecendo somente o leite materno até 6 meses. 

2. Oferecer alimentos in natura ou minimamente processados, além do leite materno, a partir dos 6 meses. 

3. Oferecer água própria para o consumo à criança em vez de sucos, refrigerantes e outras bebidas açucaradas. 

4. Oferecer a comida amassada quando a criança começar a comer outros alimentos além do leite materno.

5. Não oferecer açúcar nem preparações ou produtos que contenham açúcar à criança até 2 anos de idade. 

6. Não oferecer alimentos ultraprocessados para a criança. 

7. Cozinhar a mesma comida para a criança e para a família. 

8. Zelar para que a hora da alimentação da criança seja um momento de experiências positivas, aprendizado e afeto junto da família. 

9. Prestar atenção aos sinais de fome e saciedade da criança e conversar com ela durante a refeição. 

10. Cuidar da higiene em todas as etapas da alimentação da criança e da família. 

11. Oferecer à criança alimentação adequada e saudável também fora de casa. 

12. Proteger a criança da publicidade de alimentos.

Dica da nutricionista: aproveite a introdução alimentar para promoção da alimentação saudável para toda a família! Valorize as receitas tradicionais que fizeram parte de sua infância e crie outras próprias. Use e abuse dos alimentos no seu estado natural ou minimamente processados.

Comida de bebê é comida da família. Ou comida da família é comida de bebê?

**Você pode acessar o Guia Alimentar.

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