Deixou que o sangue escorresse para o ralo e ficou observando a cor vermelha em espiral, afogando-se involuntariamente e seguindo a trajetória que seria inalcançável aos seus olhos. Preocupou-se em ter um pano em mãos para que não houvesse rastros, nem respingos do que acabara de fazer.
“Era necessário que o fizesse”, repetia para si mesma.
Por debaixo das unhas, vestígios do ato. Suas digitais estariam ali, de qualquer forma; o pano, cúmplice do feito. As paredes cochichavam-se entre si; a linguagem do silêncio era preponderante.
A culpa, escondida por debaixo do pano, tentou esgueirar-se, mas foi detida pela soberba. E mais uma vez, ela repetiu: “Era necessário que o fizesse.”
Lavou as mãos, sem perceber que os resquícios invisíveis ainda estariam ali, acariciou a perna macia, um pouco machucada, sim, mas “Era necessário que o fizesse.”
Abriu a porta, desceu as escadas rumo à cozinha e com a faca na mão, metida dentro de um tomate, observou o líquido vermelho escorrer pela tábua, desviá-la e morrer nas pernas de madeira da mesa da cozinha.
Uma inspiração para que você possa refletir. Sobre seu corpo, seus desejos, sua identidade e escravidão sociedade em que vivemos. Porque eu não gosto de textos mastigados, gosto de mastigá-los. Permito que você reflita sobre, pare e saboreie, sem pressa.
Não escrevo para informar e sim para te desafiar.
Autora: Maysaa Ibrahim — @maysaaibrahim
Revisão: Gisele Sertão — @afagodemaeoficial