Por Roberta Santiago @roberta___santiago
Às vezes penso naquele silêncio gelado
Aonde meu filho veio ao mundo
Na posição da lua lá, que mudava perante os meus olhos
Ou talvez fosse o meu corpo que tivesse mudado
De hemisfério no mundo
Tornando mais árdua a definição exata das coisas
Pela língua ou pela rotina
Às vezes eu penso naquele silêncio
Congelante
Penso não talvez eu sinta
A emoção que vem daquele vento
Úmido, uma umidade diferente
Porque não é tropical
Não é placenta
Mas foi lá
Naquele grito contido
Naquele choro petrificado
Em plena escuridão da noite sem fim do mundo de lá
Foi
Lá que pari meu filho
Sem entrar
Realmente em trabalho de parto
Mas era noite e eu sabia
Com o útero aberto cantar
A canção de boas vindas
Ao maior amor que o universo
Até hoje me deu
Amando vou sonhando
Vou pensando
Naquele pinheiro, naquela geladeira
Aberta que era existir
Naquela hora
Naquele lado
Do mundo
Onde fiz-me mãe, fiz-me mulher
Onde morri diversas vezes e pari
E nasci
Naquele silêncio frio que aprendeu
A ser também parte de mim
E eu dele
Aqui, já, de volta
Ao calor tropical
Selvagem e úmido
como a placenta de la madre
Tierra