Mulheres-mães protagonistas da própria história

Estatísticas sobre saúde mental materna e os desafios enfrentados pelas mães

Estatísticas sobre saúde mental materna e os desafios enfrentados pelas mães

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A vivência da maternidade é um processo muito individual e que se inicia muito antes da chegada do filho. Levando em conta esse contexto plural e diverso, faz-se importante discutir os impactos na saúde mental e compreender os desafios estabelecidos a partir da vivência desse papel. A Organização Mundial da Saúde (OMS), define a saúde mental como um estado de bem-estar, em que o sujeito é consciente de suas próprias habilidades, desenvolve estratégias para lidar com os estresses cotidianos e é capaz de contribuir para sua comunidade.

A espera pelo bebê é uma vivência intensa, que coloca as mães em uma mudança constante no corpo, impacta nos hormônios, nas atividades da vida e, por consequência, nas questões de saúde mental. Dados da OMS indicam que, pelo menos, uma em cada cinco mulheres terá um episódio de doença mental durante a gravidez ou no ano após a chegada do(a) filho(a). Além da depressão pós-parto, as mulheres também podem vivenciar quadros de ansiedade, transtorno do estresse pós-traumático, dentro outros, impactados, inclusive, pelo quadro de saúde mental que antecede a gravidez e o parto.
Tipicamente as mulheres relatam vivenciar no período de pós-parto sentimentos de tristeza, falta de prazer, baixa energia e motivação, dificuldades cognitivas, alterações do sono, apetite e funcionamento do sistema digestivo, entre outros.

As mudanças oriundas da chegada desse bebê impactam de forma drástica na vida da mãe, por destinar, pelo menos, quatro meses de sua vida aos cuidados com o bebê. Em contrapartida, homens recebem alguns dias para dedicar-se aos cuidados com a mãe e com o bebê no pós-parto. Dessa forma, além da sobrecarga da vivência de uma nova relação com o bebê, as responsabilidades dos cuidados com a casa, com outros filhos, da rotina da família, recaem, em sua maioria, às mulheres. A falta de rede de apoio, de educação perinatal adequada, oportunidades de vivência da maternidade com afetos positivos e oportunidades de educação e mercado de trabalho às mulheres são os principais aspectos que perpassam por esse indicador de sofrimento mental.

Com relação aos afazeres domésticos, Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) indicam que as mulheres trabalham, em média, pelo menos o dobro que os homens no mundo. Na realidade brasileira essa discrepância é maior ainda: homens dedicam aproximadamente onze horas semanais a afazeres domésticos, já as mulheres dedicam, pelo menos, vinte e seis horas semanais. No mercado de trabalho também percebemos uma diferença entre homens e mulheres: homens brasileiros trabalham, em média, quarenta e três horas por semana, enquanto as mulheres trabalham em torno de trinta e seis horas por semana. Somando as horas trabalhadas no mercado de trabalho e nos afazeres domésticos, a média para as mulheres é de 62 horas semanais.

Além da vivência do pós-parto também são evidenciadas dificuldades de acesso e permanência no mercado de trabalho às mães. Uma pesquisa do IBGE apontou que mulheres com mais de três filhos ocupam maiores rankings de desemprego: apenas 54,6% das mães de 25 a 49 anos com crianças de até três anos em casa estão empregadas. Outra pesquisa dos profissionais da Catho de 2018, realizada com mais de 2,3 mil mães, demonstrou que 30% das mulheres deixam o trabalho para cuidar dos filhos. Entre os homens, esse número é quatro vezes menor: 7%. Dado o contexto pós-pandemia, esse indicador foi ampliado: uma pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul indicou que 84% das mães de crianças e adolescentes sentiram maior sobrecarga no cuidado dispensado aos filhos durante a pandemia.

Dados de uma pesquisa realizada pela FGV indicaram aumento na taxa de desemprego após licença maternidade, por demissão. Os indicadores apontam que 48% das mulheres são demitidas, especialmente quando possuem menor tempo de empresa. Além disso, são mais suscetíveis a salários mais baixos e menores chances de reconhecimento ou promoções e, muitas vezes, questionadas pelo líder quando teve que resolver alguma demanda familiar durante o expediente.
Outro impacto que atinge as mães, em especial as que vivem uma experiência de monoparentalidade, é a falta de acesso à renda e de rede de apoio para os cuidados com o bebê. Os indicadores da linha da pobreza de 2018 demonstraram que 63% das pessoas que vivem com menos de US$5,50/dia são mulheres negras sem cônjuge e com filhos menores de 14 anos, e 40% são mulheres brancas sem cônjuge e com filhos menores de 14 anos. A falta de acesso à renda e de falta de rede de apoio para os cuidados com os filhos, impacta de forma intensa a vivência da maternidade.

Os fatos aqui apresentados demonstram que as dificuldades vivencias no exercício da maternidade, são muito impactantes de modo geral e se configuram como desafios para a saúde mental da mulher. Há uma tendência cultural a romantização da maternidade, o que aumenta o nível de estresse e ansiedade pelas dificuldades de aproximar a expectativa e a realidade na vivência da maternidade.

Dentre os principais desafios, o acesso justo e equilibrado ao mercado de trabalho e a distribuição de renda, se colocam como maiores aspectos que impactam na vivência materna, acumulando funções e responsabilidades por desigualdade de gênero. Vivenciar e promover a mudança da visão de mundo sobre os papéis de gênero, em especial no exercício da parentalidade, é uma necessidade urgente para produzirmos mais saúde e qualidade de vida às mães.

Ana Paula faz parte do time de psicólogas da revista que atendem a preço social. Entre em contato com a psicóloga e diga que é nossa leitora.

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