Mulheres-mães protagonistas da própria história

Escritório da mamãe

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Desde que me tornei mãe, reinvenção é a palavra que mais define o que eu faço todos os dias.

Gostaria que fosse apenas no sentido emocional da palavra, mas eu tô falando é do malabarismo para fazer coisas básicas, como conseguir dar algumas garfadas na minha própria comida enquanto ofereço o almoço para minha filha.

Eu decidi sair do trabalho CLT para me dedicar integralmente a ela em seus primeiros anos de vida e confesso que subestimei o tamanho da missão que teria pela frente.

Não imaginei que, em meio a tantas demandas, a mãe que vos fala sentiria falta da sua versão trabalhadora, e eu quero ressaltar que estou falando em “trabalhar fora” porque aqui em casa o que não falta é trabalho. Eu sei que aí do outro lado, mas não tão longe assim, você me entende.

A maternidade é uma potência. Nos transforma em leoas, alimento, vigias, manicures, especialistas em choros e em tantas outras coisas que eu poderia passar o dia descrevendo. Mas, ela também nos sacode para um buraco profundo. Um lugar e um momento que podem mudar definitivamente o rumo das nossas vidas.

Eu gosto de pensar em um lindo portal que se abre bem diante de nós, nos apresentando duas possibilidades: ficar onde estamos e seguir sentindo que a gente não se encaixa mais em nada, desde as nossas roupas até o nosso antigo círculo social, ou atravessá-lo e cair em um abismo de dúvidas, incertezas e redescobertas. Você ficou esperando a opção boa né? Pois é.

A segunda opção certamente envolve muitos desafios, mas por que seguir tentando nos encaixar quando a sensação que temos é de completo desencaixe?

Tenho descoberto, pouco a pouco, que esse lugar sombrio é a oportunidade perfeita para fazer o caminho de volta. De volta para mim. De volta para casa.

A gente passa tanto tempo vivendo no automático que nem sequer nos damos conta disso.
Quem nós somos? Para onde estamos indo? O que estamos construindo?

E para mim, a indagação mais cruel de todas é a seguinte: “Que exemplo eu testou deixando para a minha filha? Já que “a adulta que ela se tornará é moldada na adulta que eu sou hoje.”
Esse percurso não é simples, tampouco intuitivo, pelo menos não para mim. Ele requer muita presença, paciência, persistência e a nossa nova, porém inconveniente, companheira exaustão.

Requer que a gente não desista de nós mesmas, principal e especialmente no momento mais complexo e no qual mais temos vontade de desistir: quando estamos sendo o mundo de outro alguém.

Aqui do outro lado, hoje, eu compartilho com você que este é o maior desafio da minha vida.

Esvaziei o meu guarda-roupa, tô aprendendo a lidar com o meu novo corpo, cortei o meu cabelo, tô reaprendendo a ler com agilidade e voltando a trabalhar, mas não em um trabalho qualquer.

Lembrei que amo escrever e tô aqui agora, escrevendo para que, de alguma forma, eu possa te ajudar a voltar a se olhar nesse momento em que todas as atenções são voltadas para o seu filho, mas que, de um modo tão doloroso, lindo e complexo, é tão seu.

Olhando em volta, a minha casa está um caos. As roupas limpas que secavam no varal estão espalhadas pelo chão, meu planejamento com os tópicos do trabalho de hoje estão rabiscados de caneta roxa, o meu raciocínio já foi interrompido inúmeras vezes por um pedido de ”tetê” ou um choro por colo e atenção. Já evitei muitas quedas, dei lanche, banho e troquei minha filha.

Esse é apenas um dia comum com o cenário do meu home office materno, que eu imagino que se repita em tantas outras casas por aí. Mas, esse recorte também é o que é visto apenas do lado de fora, porque aqui dentro o meu coração cansado está cheio de sentido.

Estou finalmente fazendo o que eu amo, redescobrindo quem sou e, em meio a tudo isso, fazendo pausas para receber abraços, beijinhos e carinho de uma mãozinha menor do que você pode imaginar, mas que me dá uma força enorme e a motivação necessária para continuar mesmo com tantos obstáculos que, tempos atrás, certamente me fariam desistir.

A minha filha me pariu e eu me descobri mãe. A mais desafiadora e melhor versão de mim.
Eu não sou mais a mesma e a minha mente, que insiste em trabalhar devagar, também não.
Mas, daqui do meu escritório caótico eu vim te lembrar que hoje somos a melhor versão da nossa vida inteira.

A nossa resiliência e força não possuem uma explicação lógica e já passou da hora de usarmos isso a nosso favor.

Juntas somos mães, mulheres e tudo o que quisermos ser. Somos fortes e podemos realizar qualquer coisa, especialmente aquilo que não fizemos quando tínhamos tempo disponível principalmente para dormir uma noite inteira.

Com amor,

Lary.

Autora: Larissa Nascimento – @laryssasnascimento
Revisão: @giselesertao

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