Mulheres-mães protagonistas da própria história

Carta a uma puérpera

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Cara puérpera,

Tem dias que são incrivelmente mais intensos, não é? Que dão a impressão  de que só você não vibra a alegria da maternidade com a mesma leveza dos demais. Você com suas olheiras, seu humor vacilante e seus silêncios.

Hoje parece ser um deles e queria dizer que te entendo.

Lembra que são muitos os hormônios no seu corpo nesse momento. Tentam recuperar as mudanças dos nove meses e te ajudar a amamentar. O que é maravilhoso, que bom que estão aí! Mas enquanto fazem esse belo trabalho, também te conduzem numa montanha russa de emoções. E detalhe,  você tá sozinha nessa aventura interna! Então, tá tudo bem oscilar aqui fora também tá… euforia, sensibilidade,  raiva, exaustão. Deixa vir… vai passar.

Ao mesmo tempo, deixa eu te relembrar, você está amamentando e, eu sei,  isso é incrível,  realmente uma das partes mais lindas do puerpério. Mas não deixa de ser uma novidade pro seu corpo, que trabalha a mil, sem um segundo de folga nessa nova função. E mais uma vez, é só você nessa empreitada, acordando com o peito cheio, uma poça no lençol, levando pelo dia o cheiro dos respingos de leite e as dores das fissuras que de vez em quando aparecem. Então pegue mais leve com você. Respire fundo e te acolha em dias como hoje. 

Por fim, recorda das madrugadas solitárias habitadas por você e seu bebê, ninguém mais. Só você sabe a alegria de dormir três horas seguidas. Eu sei que você acordaria mil vezes se fosse preciso, ninguém duvida, mas esse sono interrompido, reduzido, cobra um preço. E talvez seja o sorriso matinal no dia seguinte, o cantarolar no  café da manhã. E tudo bem. O mundo lá fora segue sob outras condições. Não ceda a essa cobrança. 

Isso não tem a ver com prova de amor a seu novo bebê.  Tem a ver com você.  Outros participam com fraldas,  banhos, passeios. Para eles o maior desafio é ajudar a lidar com as cólicas. É bastante,  não é pouco. Mas você faz tudo isso enquanto todo aquele processo se desencadeia aí dentro. Às vezes, fica pesado mesmo.  Então, em dias como hoje, se der vontade, chore. E chora sem culpa mulher. O nome disso é autocuidado. Pode chorar.

E se acontecer de novo, releia essa carta. Quantas vezes for preciso. Deixa respingar leite, amassar embaixo do travesseiro, mas mantenha sempre por perto. Se alguém disser o contrário, deixa que leia também. E releve se não for suficiente . Por ora pelo menos. Não fala nada, que você tá esgotada demais e pode se exceder. Garanta o seu próprio acolhimento e deixe pra depois a conversa com quem te negou a compreensão que tanto precisava hoje.

Fica bem e lembra, você já está sendo a melhor mãe possível. Não é sobre amor ao filho, mas a você. Não fique esperando que o acolhimento venha de fora. Seja a primeira a te abraçar.


Texto: Anellise Moreira Ramos – Instagram: @anelliseramos.

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