Mulheres-mães protagonistas da própria história

Sobre uma manhã de domingo

Sobre uma manhã de domingo

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Acho que por volta das 9 horas da manhã foi quando escutei as primeiras conversas e resmungos do Benjamin vindo do outro quarto. Me afofei no edredon macio e nem abri os olhos, eu tinha a certeza que não precisaria levantar.

Ele se mexeu na cama, já estava acordado, senti seus braços me envolvendo e três beijos seguidos nas costas. Eu amo beijo nas costas. Delicadamente e sem dizer um palavra ele sai da cama e caminha em direção ao outro quarto e eu continuo de olhos semi-fechados por mais um tempinho.

Os barulhos vindo da cozinha é que enchem o meu coração, aqueles passinhos de pés descalços, rápidos e pesados são inconfundíveis, a conversa do papai em holandês com seu filho parece calma, escuto um “obrigado” em português e fico feliz por saber que meu idioma nativo está presente nas conversas dos dois mesmo quando não estou presente. A máquina de café começa a esquentar e a certeza que tem um pão quentinho saindo do forno me faz querer levantar.

Ontem à noite eu tive um ataque de pânico, as lembranças do passado e as cicatrizes que ficaram deixaram sequelas que ainda me atormentam. Tem dias que respirar é difícil e que pra enfrentar os medos é preciso ir ao inferno e voltar e eu não quero mais fazer essa viagem. O peso que carrego pelas escolhas que eu fiz mostram o quão forte uma mulher pode ser. O fato de eu não conseguir me desvencilhar do passado, prova que nem sou assim tão forte, preciso me libertar.

Volto a minha deliciosa realidade do pão quentinho, do cheiro de café fresco e dos choramingos manhosos de uma uma criança faminta e tenho a certeza que fiz as escolhas certas. Lá fora o dia é cinza, frio e chuvoso, perfeito para uma manhã de domingo no início do outono.

Quem sabe mais tarde vou dividir meu chimarrão com meu pequeno e vou encher a casa com cheiro de bolo de banana, o mesmo que a minha mãe preparava quando eu era criança. 


Autora: Maria Joana Wasem. Morando num país distante, aprendendo a ser a mãe do Ben e evoluindo num tratamento contra a depressão. Escrevo com amor sobre a nostalgia dos meus momentos.

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