Mulheres-mães protagonistas da própria história

Se a Fibromialgia fosse doença masculina, já teríamos a cura – Desirée Varella

Se a Fibromialgia fosse doença masculina, já teríamos a cura – Desirée Varella

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A fibro é uma doença feminina.

Não começarei colocando dados para que não desista de me ler logo de cara. Eles estarão lá no final*. O fato é que muito mais mulheres têm fibro que homens. Me permita chamá-la assim: fibro. Nós já temos intimidade para isso. São 8 anos de convivência, muitos deles turbulentos. Ninguém gosta de estar doente, especialmente de uma doença que não é visível, que não deixa marcas. Essa danada parece um fantasma que nos persegue e quando contamos aos outros, nem conseguimos provas de que ele existe. 

Daí o titulo deste texto. Muitos médicos não acreditam em nós. Muitas mulheres sofrem com médicos que sequer sabem que a doença existe e quando estão diante de uma mulher visivelmente fragilizada pela dor, aproveitam para destilar sua ignorância e machismo dizendo que “isso é frescura de mulher”

O presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia**, disse que a maioria dos médicos não têm paciência para atender pacientes com múltiplas queixas (caso da fibro). Depois de um tempo de acompanhamento, chegam a dizer que não sabem mais o que fazer e que já se utilizaram de todo seu arsenal de medicamentos. Os relatos das pacientes são de chorar. Um disse a uma paciente em crise de dor forte que aquilo era falta de sexo, muitos outros dizem que é coisa “da cabeça” delas e que deveriam consultar uma psicóloga.

Não é à toa que muitas consideram ir à psicóloga solicitar um atestado de que o que elas sentem não é real, e por isso não vão. Sofrem sozinhas. Ou nos muitos grupos do Facebook em que encontram ressonância e validação de suas queixas. Ali elas se apoiam. Se reconhecem. São ouvidas.    

O fato é que estudos mostram que as mulheres suportam muito mais dor que os homens, por isso quando elas chegam a reclamar, é porque ta demais. Nós não somos ensinadas a confiar no nosso corpo, ouvi-lo e cuidar dele amorosamente. Para os médicos, (em sua maioria homens), nosso corpo é um corpo que exagera, que não aguenta os sofrimentos da vida, que se contorce e se retrai diante da falta de sexo, como as histéricas de Freud há mais de 100 anos – Oh God até quando vamos sofrer por causa deste senhor!?

Uma doença conhecida sob outros nomes desde o séc. XIX e há quase 30 anos com critérios diagnósticos estabelecidos, quantos mais teremos de esperar até que sejamos tratadas com respeito?

*A fibro acomete de 1 a 5 % da população mundial, no Brasil 2 a 3% sendo mulheres 9 entre 10 casos.
**https://istoe.com.br/fibromialgia-a-dificil-trajetoria-entre-a-dor-e-o-diagnostico/

Autora


Desirée Varella é  Professora de Psicologia, formada pela UFPR com especializações em Psicologia Clínica e em Filosofia pela PUCPR. É fibromiálgica desde 2011, escreve sobre fibro e psicologia em sua página Vida após a Fibro e é mãe de um lindo menino de 8 anos. Insta | Youtube.

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Uma resposta

  1. Parabéns pelo artigo. Nós pacientes de fibro (até mesmo os homens) precisamos nos unir para demolir o preconceito contra a doença na classe médica. Sem os médicos não conseguiremos tratamento, e prosseguir sem tratamento é muito cruel. Acompanhamento psicológico é importante, mas não é tudo, já que é uma síndrome do SNC – do cérebro. Precisamos que um tratamento eficaz seja descoberto, não queremos mais ser ignorados pela medicina! :'(

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