Mulheres-mães protagonistas da própria história

Relato de parto, amamentação e puerpério – Por: Adriana M.

Relato de parto, amamentação e puerpério – Por: Adriana M.

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Minha ilusão da maternidade já começava nos meses de tentativas, onde eu achava que bastava querer engravidar para conseguir, só que não (rs). Oito meses de tentativas se passaram. Mês a mês eram diversos testes de gravidez negativos. Foi assim que no nono mês eis que veio meu positivo e minhas buscas por informações de maternidade se tornaram incansáveis.

Antes mesmo de engravidar eu já tinha em mente que o parto que eu desejava era o parto normal. Com isso em mente, fiz várias pesquisas sobre esse tipo de parto e descobri seus N benefícios tanto para mãe quanto para o bebê. Pois bem, tudo ao redor desse parto foi fantasiado em minha mente. Tivemos uma gestação bem tranquila, ela só me fez sentir muita, mas muita azia mesmo, a ponto de não conseguir me alimentar nem dormir direito desde os primeiros meses da gravidez, tive então receituário do meu obstetra para iniciar uma medicação e não prejudicar o bebê pela minha falta de alimentação (no último trimestre nenhuma medicação resolvia mais), engordei apenas 3 kg durante toda a gestação.

Aos 5 meses de gestação fui demitida grávida e até hoje, 3 anos depois meu processo judicial ainda perpetua sem nenhum centavo em minha conta báncaria pois a empresa abriu falência, minha solidão na maternidade já havia começado desde então. Com o desejo de parto normal ficamos em casa esperando pelo trabalho de parto e monitorando o feto dia sim dia não na maternidade.

40 semanas e nada de início de trabalho de parto, 41 semanas e ainda nenhum sinal de trabalho de parto, fomos para maternidade, zero de dilatação, colo do útero alto e ainda fechado, o obstetra então optou por uma cesariana (hoje sei que talvez passei por uma, desnecessariamente). Ela foi tirada da minha barriga com quase nada de líquido amniótico (não havia descoberto isso no último ultrassom).

Acredito que, talvez, se tivéssemos aguardado mais tempo para a cesariana ou optado por uma indução para parto normal certamente ela teria entrado em sofrimento fetal com riscos de não sobreviver, isso é só o que acho, nunca saberei. Meu sentimento após a cesariana era de alegria por ter minha filha com saúde e de tristeza pelo meu corpo não ter entrado em trabalho de parto mesmo já com 41 semanas exatas (tenho certeza da data da concepção, pois como era tentante acompanhava o ciclo minuciosamente).

A fisiologia natural que eu tanto defendia tinha me traído igual a lua traiu Joelma, rsrs. Pois bem, foram dias e dias de tristeza interior para superar isso e o Baby Blues me acompanhou por muitos e muitos dias. Ela não sabia mamar, não tinha sucção adequada para extrair o colostro do meu peito, na maternidade foi avaliada até mesmo pela fonoaudióloga que concluiu que sua prega vocal era boa, então o que acontecia?

Bom, de acordo com ela, a bebê era meio “preguiçosa” para sugar, além de só querer saber de dormir. Foi ai que mais uma batalha começou. Devido a uma cesariana efetuada sem entrar em trabalho de parto, meu leite demorou alguns dias para descer. Com 10 dias a primeira consulta com a pediatra, onde foi identificado que nesse período ela havia perdido 25% do seu peso de nascimento, sendo que o normal é até 10%.

Não podíamos mais deixar ela perder peso, pois mesmo após a descida do meu leite, ela não conseguia sugar o peito até extrair todo leite porque ela dormia muito e nada a despertava, mamava apenas o leite rico em água. Após muita conversa com a pediatra ela conclui que deveríamos complementar as mamadas com leite artificial para que ela recuperasse o peso. Foi ai que mais um balde de água foi jogado pela minha cabeça: onde estava a fisiologia natural de lactação da mãe e do bebê que eu tanto estudei? Mais uma vez, a fisiologia tinha me traído pensava eu.  Então, me rendi ao leite artificial para complementar a amamentação (aos 5 meses de idade ela largou o peito por confusão de bicos, infelizmente).

Ela então começou a ganhar peso já no mesmo dia com o segundo leite, pensei mais de dez vezes em retirar o complemento, porém não tive coragem porque sabia que com o leitinho do meu peito e o da lata juntos ela estava com sua nutrição garantida até o sexto mês onde iniciamos a introdução alimentar com sólidos, eu tive muito medo dela voltar perder peso.

Não tive o parto dos meus sonhos, não consegui fazer amamentação exclusiva, tive que passar por essas decepções durante meu puerpério, e dia a dia fui aprendendo a superar tudo isso e ser grata pela minha filha ter vindo ao mundo com saúde e estar adequadamente nutrida independente se era por peito ou lata, mas isso me machucava muito, sinto a dor de nao ter amamentado da forma que eu queria.

Após 3 dias na maternidade, voltei com um bebê nos braços e um corte cirúrgico na barriga. Sozinha no apartamento com meus gatinhos e uma bebê para cuidar durante todo o dia, somente a noite meu marido chegava do trabalho para me auxiliar em tudo, minha mãe mora em um bairro bem afastado e não podia estar comigo diariamente, somente de vez em quando.

Alguns dias conseguia almoçar, outros comia alguma coisa rápida com a bebê no peito ou chorando, alguns dias nem ao menos conseguia escovar os dentes ou se olhar no espelho, não podia me abaixar se alguma coisa caísse no chão, ou me abaixava e aguentava dores terríveis. A cada mamada no peito eu chorava de dor com as contrações do útero voltando ao normal, com o peito rachado pela pega incorreta e ela chorava porque estava com fome e não havia leite para sugar.

Foram dias de alegria e dias mergulhados em lágrimas do baby blues, com noites em claro ora com ela chorando ora observando ela dormir e eu chorando no silêncio da noite. Foram longos e longos meses até que eu pudesse me ver como mãe e mulher ao mesmo tempo.

Hoje ela tem 2 anos e 5 meses, a solidão materna só se intensifica cada vez mais, essa solidão existe e é real, principalmente porque nunca tive rede de apoio. Ainda estou fora do mercado de trabalho e sofrendo todos os dramas de entrevistas com N perguntas sobre a criança.

Grávidas, não fantasie a maternidade, viva uma maternidade real, não se preocupe tanto com o quartinho nem com o enxoval do bebê, leia sobre as dificuldades da amamentação, sobre Exterogestação e sobre baby blues pra poder entender cada fase, e saiba que nada pode ser igual ao que você pensou na gestação inteira, e está tudo bem.

 

Autora

 

Adriana M., 35 anos, casada, mamãe da Olga em tempo integral, mulher de carreira pausada e em busca de uma recolocação profissional.

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