Mulheres-mães protagonistas da própria história

Relato sobre o preconceito no mercado de trabalho – Por: Caroline Maldonado

Relato sobre o preconceito no mercado de trabalho – Por: Caroline Maldonado

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Eu engravidei aos 22 anos, formada, morava sozinha desde os 18 anos de idade. Quando a Marjorie nasceu, tudo mudou em minha vida. Simplesmente tudo, casa, companhias, amigos e trabalho.
A Marjorie nasceu em Junho de 2016. Eu trabalhava em um colégio de alto padrão, muito conhecido, em Alphaville (SP), fui contratada em 2013. Lá, eu realizei vários trabalhos com os alunos e tive várias experiências, foi muito bom, mas meu trabalho mesmo, era com a educação infantil e fundamental 1 em uma biblioteca, das 7hrs às 13hrs, exceto às terças-feiras, que eu tinha que fazer horário integral, pois tinha que compensar 4 horas do sábado. Trabalhava com toda parte burocrática e pedagógica da biblioteca, como: contação de histórias, todos os dias, com várias turmas, então havia todo um planejamento semanal da minha parte. Para mim, era um trabalho tranquilo, eu gostava das crianças e professoras e gostava do que fazia.

Licença Maternidade:

Minha licença maternidade teve o total de 5 meses, pois eu juntei com 30 dias a mais das férias. Minha grande preocupação sempre foi essa: ‘E quando eu voltar a trabalhar?’ Não tenho minha mãe próxima, ela mora longe, não pudera me ajudar nessa parte, minha sogra mora perto, mas trabalha integralmente também. Não tinha ninguém. Era eu e meu namorado. Juntamos nossas coisas e viemos a morar juntos. Lá no colégio, minha remuneração era insuficiente para pagar uma escolinha/creche para Marjorie, pois os valores eram sempre a cima de 600 reais. Nossa próxima alternativa seria inscrevê-la nas creches da prefeitura. Uma atendente da secretaria da educação nos informou que só chamam crianças a cima de 6 meses de idade quando houvesse vaga e os períodos de inscrições das creches são no meio do ano e no início do ano. Aqui na cidade onde moramos, infelizmente é assim, poucas creches, poucas vagas. A fila de espera era imensa.
Nossa próxima alternativa foi o papai mudar o horário para trabalhar no período da tarde, dessa forma, quando eu chegasse em casa, ele iria para o trabalho as 15horas. Então combinamos exatamente isso. Dessa forma ele cuidaria da Marjorie no período da manhã e eu nos períodos da tarde e noite. Porém, minha única preocupação era de terça-feira, já que nesse dia eu teria que trabalhar até às 17horas, para compensar o sábado. Minha solução seria de tirar essa compensação do meu horário, que sim, era possível e sim, era um direito meu. Eu teria que apenas fazer uma carta de autorização para descontar um valor referente as 4 horas para ser descontado de meu salário. Que seria um valor de 130 reais.

Volta da Licença Maternidade ao Trabalho:

Voltei a trabalhar no dia 01 de Dezembro de 2016, numa sexta-feira. Todo meu sofrimento e pressão começou nesse dia. Eu já estava me adaptando a nova rotina de ter que me separar da Marjorie, afinal, era uma nova fase que estava passando. E depois, tinha que resolver essa questão da minha compensação. Que eu não fazia ideia que me traria tanta dor de cabeça. Eu fui conversar com minha coordenadora, que mal olhou em meus olhos e mal abriu a boca pra conversar comigo, eu expliquei toda minha situação de depois da maternidade, toda minha dificuldade com minha filha e solução que já havíamos encontrado para podermos cuidar dela. Eu disse que precisava tirar minha compensação, que eu não tinha outra alternativa naquele momento e precisava muito disso. Eu disse também, que já havia inscrito a Marjorie na creche da prefeitura, mas não sabia quando eles iriam chama-la, eu tinha que aguardar. Enfim, eu expliquei tudo, eu cogitei até mesmo em após a prefeitura chamar a Marjorie eu voltar a compensar normalmente, por que isso nunca foi um problema para mim. Ela não falou muito, apenas me disse que iria “ver” e que depois me falava. Mas ela não me falava nunca. E eu precisava fazer minha carta da retirada da compensação, para ela assinar e minha situação se regularizar no RH.

Conversei com a bibliotecária, que aparecia na unidade pelo menos uma vez ao mês, pra ela estar por dentro da minha situação ela disse que por ela não teria problema nenhum.
Passou um tempo, Natal, Ano novo, os alunos voltaram das férias. Aguardei mais uma semana e voltei a falar com a coordenadora, que mais uma vez não me deu posição nenhuma, comecei a ficar angustiada.

Descobri que a coordenadora havia pedido minha demissão para o RH central por intermédio de uma auxiliar do colégio, pois ela descobriu que havia aberto uma vaga para o meu lugar. Eu fiquei sem o que dizer na hora, pois eu não esperava aquilo, eu queria conversar, eu queria apenas resolver minha questão oficialmente que não era prejudicial a ninguém. Eu me senti uma idiota e enganada. As pessoas sabiam o que estavam fazendo comigo e se lamentavam.

Nesse mesmo dia liguei para a bibliotecária e ela se contradiz toda, dizendo que havia problema sim, que ela não tinha muito o que dizer, mas eu sabia que não era verdade, por que eu já havia descoberto sobre a demissão. Não confiei mais, então resolvi conversar com a moça do RH, e foi um alívio, ela me confirmou o pedido de demissão e me orientou em conversar com a diretora sobre o que estava acontecendo. Expliquei tudo para diretora, desde minha situação com minha filha ao que eu havia descoberto sobre a demissão. Ela achou tudo um absurdo, eu sinceramente não sei até hoje, se ela realmente estava sendo honesta comigo, pois nessa altura já não confiava em ninguém, mas, ela me autorizou a retirada da compensação sem problema nenhum, assinou minha carta e disse para eu me tranquilizar e disse que entendia perfeitamente o meu lado. Contei também que a bibliotecária não teve ética nenhuma, pois eu soube que ela contou sobre demissão para uma amiga de trabalho, (como se ela não fosse me contar nada, né? Até parece!) fiquei muito chateada com isso também.

A essa altura já havia passado um tempo, e eu estava indo trabalhar com uma extrema insatisfação, eu não tinha mais vontade de levantar da cama, não pelas crianças, mas pela situação que me colocaram, pela falta de valorização com meu trabalho, pela falta de consideração com minha pessoa, pela falta de humildade daquela coordenadora. Senti o preconceito como jamais havia sentido em minha vida, eu precisava fazer aquilo, que era um direito meu, para poder cuidar da minha filha, um ser totalmente dependente.

Fui mandada embora no dia 04 de Abril de 2017. Foram 4 meses de angústias naquele colégio, estava ainda numa fase sensível, sentia que todo meu trabalho que tive lá, por 4 anos não havia valido para nada. Apenas o que ficou foram minhas amizades que tenho comigo até hoje. Senti que eu estava sendo mandada embora porque tinha uma filha, porque tinha me tornado mãe e porque tinha que me virar sozinha.

Após a Demissão

Fui demitida, a Marjorie já estava com 10 meses. Resolvi me dedicar a ela pelo tempo do meu seguro desemprego. Mas meus planos não era ficar muito tempo em casa. Sempre tive minha independência e sempre gostei de trabalhar, então ficar muito tempo em casa e sem salário não seria nada saudável para mim. Foi passando o tempo, fiz algumas entrevistas que sempre me perguntavam se eu era mãe ou se tinha filhos, se sim, quantos, idade deles e se eu era casada ou não. Eu passei a sentir uma opressão muito grande por ser mãe, como se isso fosse um pecado, comecei a me perguntar o porquê da dificuldade de ter que contratar uma mãe, e por que não havia dificuldade em ter que contratar um pai, por exemplo. Comecei a ver as dificuldades que as empresas viam em uma mãe ou uma mãe que tinha uma filha de 1 ano, que é o meu caso. Eu não consegui nada, eu comecei a me frustrar, como se todo meu esforço de antes de me tornar mãe, não havia agregado em nada para mim, como meus estudos, por exemplo.

Hoje estamos em 2018, estou com 25 anos, a Marjorie está com dois anos. Sou formada em Letras desde 2013 e em Artes Visuais desde 2016. Até hoje não consegui um trabalho, fui mandada embora numa época horrível para quem trabalha na área da educação. Eu não consegui trabalho nem como auxiliar geral, não estou escolhendo emprego. A crise do país, atualmente tem contribuído bastante também para com isso. O governo do estado que moro, São Paulo, fechou muitas escolas públicas e com isso só dificultou ainda mais para eu poder conseguir um contrato com o Estado para ganhar, pelo menos 10 reais a aula. (Que é uma miséria). Até hoje a creche não chamou a Marjorie.

Estou vivendo nessa luta diária para conquistar meu espaço no mercado de trabalho e poder proporcionar o que estiver ao meu alcance para minha filha.
Eu tenho certeza que não sou a única, nem a primeira e nem a última. E, certeza de que esse preconceito já deve ter passado em muitas outras mães. Fora as dificuldades que enfrentamos com nossos bebês.

Sentir essa desvalorização como mulher e como mulher mãe, onde parece que tudo piora se você virar mãe, é horrível. Já me senti frustrada, decepcionada, mas isso passou e passou por ser mãe hoje, pois me tornei mais forte, quando penso que vou cair, eu não me permito, eu não posso. E, é por ser mãe que não abaixo a cabeça e não desisto, pois ainda sou a mesma Caroline de sempre, além de ser mãe, sou mulher e tenho uma vida, tenho sonhos e objetivos a conquistar.

Esse foi meu relato de desabafo, pelo o que passei após virar mãe, pelo o que eu jamais pensei que fosse passar no trabalho, mas eu me fortaleci e hoje vejo que sou um ser melhor e superior a todas dificuldades.

Autora

Caroline Maldonado, 25 anos, mãe da Marjorie, apaixonada pelas artes e todo seu universo.

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