Mulheres-mães protagonistas da própria história

O dia em que invadi a Polônia com Nerfs

O dia em que invadi a Polônia com Nerfs

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Eu sei que o título é absurdo e irônico, mas preciso de algo que faça jus ao termo que foi usado para me descrever:

FEMIMAMÃENAZI

Acredite ou não, esse termo foi usado em uma postagem feminista que falava sobre a exclusão de mães no meio feminista e de como isso é errado.

(link do post: https://www.facebook.com/agataeodiabo/photos/a.231822786993802/1492270470949021/?type=3&theater)

Como existe uma generalização completamente sem sentido sobre as crianças dizendo que TODAS são irritantes, TODAS são chatas, TODAS são ruins, TODAS são (use qualquer adjetivo pejorativo aqui), resolvi eu fazer uma generalização já sabendo que ia render, para ver como as pessoas se sentiam:

 “Gente é simples: mulheres que dizem que não gostam de crianças são tão feministas quanto as conservadoras de direita. Elas se aproveitam dos frutos do feminismo, mas na prática não o são. Beijos até o próximo episódio”

É claro que foi uma provocação. É claro que foi pra fazer todo mundo refletir quão ridícula é a generalização feita sobre crianças. Ninguém gosta de ser generalizado, então, ninguém deveria generalizar assim. E assim como muitas não suportam ser comparadas com as conservadoras, também não é nada legal ver nossos filhos sendo xingados e odiados pelo simples fato de serem CRIANÇAS (coisas que todo mundo já foi).

Não deu muito tempo até que veio um comentário de uma pessoa que provavelmente se diz feminista (já que é superfã de uma página feminista) e fez o seguinte comentário:

“Ah pronto. É aqui a sindicância pra cassar a carterinha das manas que não gostam de criança? Se for, pode pegar aqui a minha que se não aceitam minhas escolhas eu tbm não quero estar nesse clubinho de femimamãenazi”

Independente da discussão ser antiga, das pessoas se recusarem a ouvir as mães que, por acaso, são as que têm VOZ quando se fala sobre filhos, apesar dessa treta ser pra lá de longa, eu quero sugerir aqui um momento de relaxamento intenso para as mães focarem em uma situação fantasiosa que, não sei para vocês, mas para mim me arrancou boas risadas em frente ao meu computador. Eu intitulei como: “Querido diário, hoje invadi a polônia com Nerfs”. Segue meu texto.


Querido diário,

Hoje finalmente invadi a Polônia com Nerfs (arminha de plástico que solta água). Não foi fácil o planejamento, nem curto. Recrutar foi fácil, o problema foi o cronograma.

Quando eu publiquei na Craigslist (site de classificados) que eu procurava um time de mães para invadir a Polônia e perpetuar a raça materniana, muitas se inscreveram imediatamente. Entre os motivos mais comuns estavam aquelas que se sentiam entediadas com a vida materna, que queriam mais emoção pois estavam sem nada para fazer. Afinal, quase não temos responsabilidade nenhuma.

Só ligar a Netflix na TV e esperar que a Galinha Pintadinha faça nosso trabalho. E isso torna nossa vida muito modorrenta. Algumas são realmente furiosas e elas sentiam a necessidade de mandar no útero de todas as pessoas que possuem um, sejam elas cis ou trans, não importa. Tem útero, deve procriar. É a lei da raça materniana. É assim que deve ser.Já um grupo menor queria se vingar mesmo por pura inveja das pessoas que não têm filhos e são obviamente milionárias, todas elas.

Só pessoas que têm filhos têm problemas financeiros. As outras são todas ricas sem problemas financeiros, assim como mostram nos memes casais felizes tomando vinhos caros e andando de jet-ski. Casais sem filhos também não têm problemas de relacionamentos. E por isso elas queriam se vingar. O meu propósito era só causar a discórdia mesmo entre as mulheres que são sempre tão compreensivas, que nunca maltratam as crianças, que sempre agem como verdadeiras fadinhas com as mulheres que são mães.

Elas são sempre tão solícitas, deixam as crianças se sentirem bem-vindas em todo local da sociedade que não exclui de forma alguma as crianças nem as mães. Todos muito amorosos e fofos com crianças e mães. Nunca falam mal, nunca maltratam. Isso me deixou nervosa, não queria que ninguém fosse minimamente educado com as crianças. E também a necessidade de fazer todo mundo parir e procriar porque lutamos contra a romantização da maternidade e queremos que todos procriem biologicamente porque faz todo o sentido. O plano começou bem.

Encomendamos pelo Aliexpress as melhores Nerfs que existem. Material top de linha, mira de luxo, espuma de primeira qualidade. Bateu, caiu… o dardo de espuma, claro. Mas quem não se rende à irritação daquele dardo batendo no seu braço? Óbvio que qualquer um se rende ao poder da Nerf. Também reforçamos com um exército de LOL, My Little Ponys, Comandos em Ação (ORIGINAIS!!!) e alguns Pokemons.

Estava tudo perfeito. Estava tudo planejado. Arrumamos slings de qualidade, cadeirinhas de luxo, tivemos uma área só para as crianças interagirem até as mamães voltarem a tempo de dar a papinha vegana orgânica da tarde (as mais velhas levaram sanduíches com brinquedos). Foi tudo quase perfeito. Poucas horas antes de atacarmos, alguns Enzos começaram a chorar sentindo a falta das mães e algumas Valentinas machucaram o dedo brincando de adoleta.

Demos atenção, colocamos a TV e todas ficaram como todos os dias, hipnotizadas, sendo criadas pelo serviço de streaming. Que bênção! Depois das fraldas trocadas, barrigas cheias, beijos dados e lições feitas, resolvemos atacar entre meio dia e meia e três da tarde que é o horário entre as refeições. As mães de filhos maiores ficaram na linha de frente, já que elas estão acostumadas a gritar já mais tempo e preparariam um AAAAAAAH THIS IS MAMARTAAAAA com maestria.

As das crianças menores ficaram no meio atirando os brinquedos e cantando Baby Shark para entorpecer as vítimas e fazer com que elas se rendessem mais depressa. E, por último, as mães de bebês, lactantes ou não, com peitos ou mamadeiras carregados, esguichando leite na cara de quem resistiu às primeiras barreiras. Foi lindo, um ataque brilhante, ninguém resistiu e conseguimos prender todos em cercadinhos prontos para começar o Femimamãenazismo.

Um período que será lembrado com muita glória por toda a história. Os próximos momentos dessa grandiosa ação serão contados depois, pois agora preciso dar banho nas crianças e dar jantar. Conseguimos. Vamos defender a raça materniana para todo o sempre.


Caso alguém não tenha entendido – nunca se sabe – esse texto é repleto de ironia com requintes de sarcasmo justamente para as pessoas verem o quão ridículo soa usar um termo absurdo como esse. Comparar qualquer luta pelos direitos básicos do ser humano com o nazismo não só é desinteligente como também é hipócrita e desonesto. Quando que pedir para que crianças sejam respeitadas é igual a colocar milhares de pessoas em câmaras de gás, usá-las para experimentos, tortura-las?

Quando no mundo que responder a um “o que é isso?” de uma criança é o mesmo que ser preso em campos de concentração sem saber se vai ou não sair de lá? Isso é desonesto demais. É hipócrita.Tem quem diga que crianças não são minorias, mas desculpe informar, elas são. Elas têm um estatuto próprio para defender seus direitos básicos, elas são uma das camadas mais vulneráveis da sociedade, elas SÃO minorias que merecem respeito querendo você ou não.

Crianças são seres humanos como qualquer outro e devem ser respeitados, acolhidos e cuidados. Ninguém quer te obrigar a ser mãe, ninguém quer te forçar a criar alguém. Pelo contrário, a luta contra a romantização da maternidade justamente defende mulheres que não desejam ser mães e muitas de nós foi mãe à força, acredite. Ninguém quer um Handmaid’s Tale.

Assim como vocês querem a liberdade de ir e vir sem ser maltratadas e incomodadas, queremos o mesmo para nós e nossos filhos. Não é difícil.

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