Mulheres-mães protagonistas da própria história

O cotidiano no Puerpério

O cotidiano no Puerpério

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O puerpério põe em cheque nossos valores e crenças, nossas capacidades e nossa resistência física e emocional.

Do lado de cá, os dias passam em um tempo diferente. Os eventos têm um tempo único, que escapa da contagem do tempo cronológico. Como diz uma amiga, ficamos sem a certeza de se só passaram 2 horas ou 2 meses.

Algo simples e automatizado como o ritmo circadiano perde o sentido e os dias e noites são guiados pelas demandas de um serzinho que passa a ser o mundo todo e a vida toda de quem cuida.

Quando me deparei com esse tempo na carne, sofri. Achei que não me adaptaria. Tive medo, quis fugir. Não conseguia enxergar alternativas para lidar com a vida acontendo nesse ritmo.

Lembro de como acordava transtornada,  agressiva e impaciente, na madrugada, sem conseguir elaborar frases coerentes. E de como Manoel, firme e forte, testemunhou e acolheu esse meu processo. 

Hoje, começo a entrar no ritmo do tempo-Lia e isso implica não saber o que virá em sequência pois o tempo-Lia nos arrasta para o presente. O xixi e o cocô estão feitos e é preciso trocar a fralda já; o choro de fome suplica o peito imediatamente; o cochilo mais longo chega sem hora marcada e pode terminar no instante seguinte; o estímulo sensorial específico precisa ser feito hoje; o peso, o comprimento e outras medidas só valem para o dia em que são tiradas, rapidamente se desatualizam.

Inutilmente, vou criando alguns marcos e me apegando a eles com unhas e dentes para me sentir no controle: apojadura, icterícia, 1 mês, mastite, candidíase, sling, 2 meses. Vou recontando-os mentalmente para lembrar o que passei, onde estou e quanto falta… Faço isso algumas vezes por dia sem efeito, a sensação é de estar caindo num abismo, na Toca do Coelho.

Sinto dores no corpo. Dói a cabeça, o peito, as costas, os braços, os punhos… às vezes a amígdala, a língua, a gengiva… a imunidade cai. É meu corpo gritando: “querida, a vida acontece no presente, aceite e deixe fluir”.

As dores físicas servem para isso mesmo. Agradeço, mas em seguida tomo um paracetamol… mais um dia e contando… consegui!

Você me compreende? Aposto que sim, se for mãe. Senão, é questão de tempos.


Autora: Camilla Jordão, Mãe (de primeira viagem) de Maria Lia, enfermeira obstetra e apoiadora em aleitamento materno, coordenadora do Ishtar Recife e região metropolitana. Insta: @camisjor | @camisemanelamamemtacao  

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