Mulheres-mães protagonistas da própria história

Não se pode rotular as pessoas – Por: Karen Andrade

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“Não se pode rotular as pessoas ainda mais em uma idade tão pequena”

Disse ontem uma médica que fechou a segunda avaliação neuropsicológica da minha filha de 7 anos diagnosticada com TDAH, TOD e Deficiência Intelectual Não Especificada (vulgo “retardo mental” CID F 79).

Ela me disse que não posso rotular minha filha e que devo usar esta informação APENAS para orientar melhor suas atividades e seus comportamentos. Mas, dizer o que ela é, não. Eu não devo rotular. Isso significa que eu não devo expor. Isso significa que ninguém deve saber. Isso significa que eu praticamente devo esconder. Exatamente como a sociedade espera.

Quando ela estudou por apenas 6 meses em um colégio católico e recebeu todo aquele conhecido “amor cristão” (só que não), ela já apresentava sinais de que precisava de uma atenção diferenciada. Tive discussões, brigas no colégio, tudo o que eles faziam na agenda era reclamar constantemente de uma menina de apenas 5 anos de idade como se eu devesse ser onipresente e mágica.

Quando conversei com a direção, eles me disseram que enquanto ela não tivesse um parecer médico eles não iam tratá-la nenhum pouco diferente, e isso, incluía tentar forçar uma criança a caber no sistema defasado de educação que o Brasil ainda apresenta. Isso incluía também, não receber qualquer tipo de auxílio ÓBVIO que ela precisava. Mas, sabe como é, não pode rotular.

Ano seguinte na rede pública, não conseguia entrar na sala de aula. Alguma coisa a impedia. Sempre faz as tarefas comigo em casa, sempre acompanha atividades lúdicas, certa facilidade de compreender as coisas rapidamente, mas do jeito certo de explicar que não seja sentar numa cadeira e ter a matéria vomitada e depois um desenho para colorir. Interagia apenas com adultos e os menores. Nunca os de sua turma. Felizmente, essas crianças abençoadas sempre tiveram amor por ela – embora medo por conta das crises de agressividade que aprendemos que precisava de remédios depois de todas as tentativas do mundo. A fala era diferente, os traços muito mais infantis que a idade exigia, parecia um bebê grande. De alguma forma, não conseguia se adaptar àquelas regras antigas, endurecidas, militarizadas e com seu comportamento extremamente impulsivo e carinhoso, conquistou muitas pessoas que deram um jeito de ajudá-la mesmo sem saber o que era. E, depois que descobrimos (ou começamos), mudaram o possível para atendê-la melhor (embora não tenha funcionado). Mas, ainda não se pode rotular.

Este ano, ela começou em uma escola nova, devido ao Ensino Fundamental. Desde o primeiro dia de aula, corpo docente com um laudo nas mãos e a mãe conversando, contando em detalhes possibilidades infinitas, dizendo que qualquer dúvida é só perguntar que a mãe ajuda. Mas, você já traz sua filha rotulada na escola? Não, não pode. Aqui trabalhamos com seres humanos. Criança não se adapta. Escola não faz inclusão. Escola, além de não dar suporte para inclusão, exclui das poucas atividades que poderiam lhe interessar.

Mas sem rótulos. Precisamos de DIAGNÓSTICO. O diagnóstico diz XYZ. Mas não, isso é rótulo. Entra na justiça, procura os direitos, vai em médicos e terapeutas 4 de 5 dias úteis. Acompanha com uma religião. Aprende coisas. Baixa material de Homeschooling (Aprender em casa).

Certa vez, a Diretora veio berrando com a mãe perguntando se querem que eles agarrem a criança à força e enfiem na sala de aula porque, segundo ela, tudo o que se aprende na Faculdade de Pedagogia não se coloca em prática no dia a dia. Isso se chama inclusão. Isso é LEI. Mas, não pode ser colocado em prática, porque é difícil.

Pedimos ajuda em grupos de homeschooling uma vez que a criança está se atrasando mais e mais no ensino. A nova avaliação está saindo. Média da inteligência dando: Transtorno de Personalidade Limítrofe a inferior. Mas, não se pode rotular. Uma dúvida da história toda porque parece mentira (queria, muito mesmo, que fosse, mas não é). Outra diz para ser dura com a criança porque “a vida é dura” e que a mesma está sendo estigmatizada pela mãe. Não estigmatize. Não rotule. Esconda. Seja dura. Seja militar. Castigos imediatamente! Ela TEM que seguir as regras da sociedade. Mesmo que a escola não cumpra a LEI. Não importa. Tá achando que sua criança é o que? Especial? Sim, ela é.

NÃO! NÃO ROTULE A CRIANÇA! ELA É UMA BÊNÇÃO! Ninguém aceita crianças diferentes. Se for deficiente, que seja aquelas que não se movem, aquelas que têm uma aparência característica. Mas se tiver uma deficiência COMPROVADA E DIAGNOSTICADA onde ela “parece normal, ué” então não tenha. Não rotule. Não espere que seus direitos sejam respeitados. Não espere inclusão.

Não espere que passem a mão na cabeça e EU, UM SER ESTRANHO QUE NUNCA TE VIU, EXIJO QUE VOCÊ DÊ LIMITES E NÃO PASSE A MÃO NA CABEÇA DESSA CRIANÇA (nisso os psicólogos e a família inteira viram os olhos porque – duh – damos limites e regras, sim).

Não espere que os seres humanos te tratem bem como se você fosse, sei lá, um pet. Aliás, nos faça um favor: não existam!

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