Mulheres-mães protagonistas da própria história

Mestrado, maternidade e quarentena

Mestrado, maternidade e quarentena

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Quantos papéis e quantos sentimentos temos em um único dia ou em uma única manhã apenas. Ao mesmo tempo sou uma, nenhuma ou sou tudo e mais um pouco. Quantas lágrimas escorreram nesse período de quarentena, quantas angústias, quantos conflitos internos e externos.

Neste período de quarentena me questionei inúmeras vezes em relação a cursar o mestrado com criança pequena, mas já havia iniciado e não era possível seu trancamento.

E a mesma pergunta rondava meus pensamentos constantemente: como conseguirei concluir o curso que tanto desejei nesse período de isolamento social? E sempre aparecia um anjo sem asas que me confortava trazendo palavras de consolo, uma escuta e incentivo, “vamos juntas estou com você”, “terminaremos juntas o mestrado”, uma segura na mão da outra ou oferendo para ficar com sua filha para finalizar um trabalho, escutando áudios de nervosismo e choro.

Quantas vezes terminei um trabalho chorando, ou brigando com minha filha, pois os combinados não estavam dando certo. Quantas memórias eu tenho para compartilhar sobre esses momentos de estudar/pesquisar com criança pequena.

Enquanto você está em um encontro virtual aparece a criança com uma parafusadeira na mão te chamando, durante as aulas a criança sobe na sua cabeça, senta no seu colo para assistir a aula junto (até aí tudo bem), responde a professora que já pode voltar, brinca, desenha, faz pintura (com lápis, tintas, giz), faz experiências ao seu lado, mas tem dias que a situação fica mais grave, quer se pendurar no lustre, molha o apartamento todo, sobe em cima da mesa de vidro para pular, desmonta o quarto todo, tranca a gata em algum lugar, entra na máquina, se esconde no guarda-roupa e por aí vai.

Você acorda bem cedo para conseguir trabalhar e estudar com atenção e concentração antes que a criança acorde e fica torcendo para que ela acorde tarde, para conseguir fazer muitas coisas. Porém, normalmente, o máximo que ela acorda é às nove e meia.

Vamos preparar o café da manhã, conversar, olhar para rotina do dia e quando olhamos novamente para o relógio já é hora de organizarmos juntas o almoço, prepararmos as coisas para o período da tarde que já não é tão produtivo em relação ao trabalho e aos estudos e, quando menos esperamos, a noite chega e por muitas vezes trazendo um lindo céu no anoitecer para irmos até as janelas e contemplar.

Nos erros e acertos com a rotina e com muito diálogo as coisas foram melhorando aos poucos, tiveram dias que desliguei o computador, pois sabia que não conseguiria fazer mais nada. Da mesma forma que é delicado para mim é para ela também que é uma criança bem ativa, que gosta de conversar, questionar, construir, brincar, dançar, que fazia inúmeras atividades.

Antes ela passeava bastante e de repente está dentro de um apartamento e que deseja que a mãe dela seja apenas mãe, que a mãe dela está em casa então podem brincar e ficar juntas o dia inteiro.

Às vezes ela pegava pesado em suas colocações “O que a senhora prefere esses papéis ou sua filha?”, “por que você quis ter uma filha, se não quer brincar, ficar juntinho, assistir um filme”, “de novo nesse computador, vamos jogar um jogo”, “conversa comigo, conversa”, “quero voltar ser um bebezinho para ficar no seu colo o dia todo, assim você me dá atenção”.

O primeiro semestre de 2020 encerrou-se com afetividade, aprendizado, “surtos” e construção de novas estratégias para vivermos o segundo semestre com mais tranquilidade e na boa companhia da minha filha que traz luz, energia, alegria, risadas e vida.

Sigo rumo ao segundo semestre com a citação de Cora Coralina “Mais esperanças nos meus passos do que tristeza em meus ombros”.


Autora: Elizete Gomes, mãe da Rhadija. Professora na Escola Municipal de Educação Infantil de São Paulo. Licenciada em Pedagogia, especialista em Psicomotricidade, Mestranda em educação: Formação de Formadores (Formep) PUC – SP.

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